Trezentas e oitenta meninas entre 12 e 17 anos se inscreveram para participar da seletiva promovida pelo Santos Futebol Clube em parceria com o Projeto Meninas em Campo, no último sábado (07/3). No total, 157 garotas compareceram ao teste e puderam mostrar suas habilidades para, quem sabe, realizarem o sonho de se tornar uma jogadora de futebol.
A parceria do clube santista com o Meninas em Campo acontece desde 2017. É ali no espaço localizado Butantã, em São Paulo, que treinam as “Sereinhas da Vila” do Sub-15 e do Sub-17. Segundo Alessandro Rodrigues, Gerente Executivo da equipe feminina, a intenção é melhorar a estrutura de preparo para a base e fazer o local se tornar a casa das mais atletas mais jovens do clube.
“Nosso próximo passo é construir uma estrutura melhor. Vejo que pro nível do futebol brasileiro, a nossa estrutura de base é excelente, mas sei que é preciso melhorar muita coisa e isso é um processo. A ideia é que o espaço no Butantã fique como nossa sede para jogarmos as competições de base, já que a maioria das jogadoras moram em São Paulo”, contou às dibradoras.
No atual elenco profissional do Santos, seis atletas da base – e que foram vice-campeãs Paulista Sub-17 em 2019 -dividem espaço ao lado de nomes de alto nível, como Cristiane, Tayla e companhia. São elas: a zagueira Sassá, as meio-campistas Laura Valverde, Luana, Nicole Marussi e Giovanna Fernandes e a atacante Analuyza.
“Eu não monto time de base pra ser campeão. Claro que não gosto de ser vice como fui ano passado, mas minha ideia principal não é ser campeão. A ideia é que aconteça o que está acontecendo agora, com seis meninas oriundas da categoria de base que subiram para o profissional em tão pouco tempo. Estamos formando a atleta como jogadora, como mulher e cidadã. Estamos olhando para as meninas que chegam na categoria de base como parte de um processo, para que ela chegue pra jogar no Santos, que conquiste as coisas e, quem sabe, no final da carreira, ela seja suficientemente capacitada para ser o que é hoje uma Thaís (Picarte) e uma Patrícia (Nardy)”, afirmou Alessandro.
Thaís Picarte e Pati Nardy defenderam o gol santista por anos – a primeira, vestiu a camisa da seleção brasileira por 10 anos e a segunda se aposentou na temporada passada. Hoje, as duas ocupam funções técnicas do time feminino: Thaís é a coordenadora do elenco de base e Pati é treinadora de goleiras.
Oportunidade e nervosismo
Durante todo o sábado ensolarado, a comissão técnica da base santista avaliou as candidatas em um trabalho que foi dividido em três etapas: análise de fundamentos, depois elas partiram para o um contra um com finalização ao gol e fecharam a atividade com trabalho no campo com 11 contra 11.
O Paulista Sub-15 acontecerá pela 1ª vez em 2020 e esta será uma das principais competições disputadas pelas equipes de base de São Paulo. E, curiosamente, as meninas na faixa etária dos 14 aos 16 anos foram maioria na seletiva – a peneira recebeu 72 garotas com essa idade.
Lucyane, de 14 anos, mora na Praia Grande e participou da seletiva como lateral esquerda. Começou a jogar bola incentivada pela tia, que também praticava. “Eu sempre gostei de estar entre os meninos e jogar bola na rua. Eles até passavam a bola pra mim porque éramos bastante unidos, mas tive que aprender a ter mais jogada de corpo porque eles eram maiores, e eu precisava aprender umas malandragens”, contou ao blog no dia da peneira.
Essa foi a segunda peneira que Lucyane participou. Na primeira vez, ela tentou uma vaga na Portuguesa Santista e revelou que foi um desastre porque estava super nervosa. E, mais uma vez, ela não conseguiu ser aprovada.
Já Ana Luiza Muniz da Costa, de 14 anos, passou na seletiva. Ela veio de Andradina, viajou por oito horas, fez o teste e conseguiu se garantir para a segunda fase da peneira. “Comecei a jogar com 5 anos, sempre joguei na rua. Aí eu entrei em uma escolinha de futebol só para meninos na minha cidade. No começo foi meio difícil, mas agora com a amizade deu certo”, contou a garota que começou a jogar como atacante, mas agora atua como volante.
“Quando eu vi meu nome na lista das aprovadas eu fiquei muito feliz por ter conseguido. Isso já é um grande passo em um país que ainda não valoriza o futebol feminino. Meus pais receberam com muito orgulho a notícia porque eles sempre me incentivaram e me apoiaram”, nos disse Ana Luiza, que entrou em campo e fez o teste usando óculos, mas que pretende usar lentes assim que conseguir se acostumar com elas.
Dezoito meninas foram aprovadas nessa primeira fase. Agora, o segundo passo é inseri-las no time (sub-17) para análise por alguns dias no contexto do grupo. Esse é o início de um caminho que também foi trilhado por tantas craques do futebol, repleto de altos e baixos, mas que nunca deixaram de acreditar que seria possível.