Pela primeira vez, o Rio de Janeiro terá um campeonato de base no futebol para meninas sub-16. A FERJ fará o conselho técnico do Campeonato Carioca Sub-16 feminino nesta sexta-feira, e o torneio contará com a participação de dois grandes do estado: o Fluminense e o Vasco.
Serão 12 clubes na competição e eles serão divididos em dois grupos – os dois melhores colocados se classificam para as semifinais e finais. O início está marcado para 4 de abril e o término será em junho, o que garante dois meses ao menos de competição para a categoria.
“É mais um passo que damos para o fortalecimento da base e crescimento do futebol para mulheres”, afirmou o diretor de competições da FERJ, Marcelo Vianna.
As competições de base são o primeiro passo para o desenvolvimento do futebol feminino. Até pouco tempo atrás, as meninas não tinham sequer clubes para jogar na adolescência, e muito menos competições para jogar. A iniciativa pioneira nesse sentido veio da Federação Paulista de Futebol (FPF) em 2017, quando a então coordenadora de futebol feminino Aline Pellegrino criou o Paulista sub-17.
Alguns outros estados já seguiram a iniciativa, como é o caso do Campeonato Gaúcho sub-16, e o Cearense fez uma edição sub-20 no ano passado. Com a CBF criando o primeiro Campeonato Brasileiro feminino de base somente no ano passado (o sub-18 e posteriormente o sub-16) – e também com a obrigatoriedade da Conmebol que exige dos times masculinos que disputam suas competições manterem times profissionais e de base femininos -, os clubes passaram a criar suas categorias sub-18 e sub-16, e as competições foram surgindo.
Esse é um passo essencial para que o futebol feminino possa crescer e se desenvolver. Afinal de contas, um dos problemas crônicos da modalidade era o início tardio das meninas. Isso acontece, primeiramente, porque as meninas não são incentivadas a jogar bola nem em casa, nem na escola, e elas acabam tendo o primeiro contato com o esporte mais tarde do que os meninos. Depois, vem o segundo grande problema, que é encontrar um lugar onde elas possam jogar. É raro encontrar escolinhas de futebol para meninas, e as que jogam acabam tendo que ser solitárias em escolinhas para meninos. Isso ajuda ainda mais a retardar o desenvolvimento técnico dessa aspirante a jogadora, porque ela não tem a formação que um garoto da mesma idade consegue ter frequentando aulas com treinadores especializados.
Aí vem a fase primordial para o desenvolvimento de um futuro atleta: a base. No caso das meninas, até cinco anos atrás, era simplesmente impossível encontrar um clube feminino que oferecesse categorias sub-17, sub-15, sub-13, etc. O pioneiro nisso foi o Centro Olímpico, de São Paulo, em 2015. Se pegarmos as jogadoras da seleção brasileira de hoje, a maioria delas não passou por essas categorias e teve de estrear direto no adulto quando ainda tinham 15 anos de idade. Isso faz com que o desenvolvimento tático e técnico dessa atleta, a formação dela mesmo como jogadora, tenha que acontecer “na marra” no dia a dia de um time adulto. Obviamente que não é o ideal e essas atletas acabam chegando defasadas até uma seleção brasileira por exemplo.
O desenvolvimento de uma base estruturada para o futebol feminino é o que vai fazer elevar o nível técnico das jogadoras para que elas cheguem aos times adultos já “prontas”. É isso que vai fazer com que a modalidade cresça cada vez mais e desperte o interesse de mais meninas no futuro.
Infelizmente, o Carioca sub-16 não vai contar com os quatro grandes do Rio de Janeiro, porque Flamengo e Botafogo não estruturaram suas equipes de base a tempo de disputá-lo. Provavelmente, o torneio também terá equipes amadoras de comunidades e terá as famosas goleadas que já viraram “praxe” no estadual do Rio de Janeiro (até mesmo no profissional – em 2019, ficou famosa a goleada do Flamengo por 56 a 0 na competição). De todas as formas, o campeonato é importante para fomentar a base e dar início a um trabalho mais estruturado no futebol feminino carioca.
A FERJ também organizará um festival sub-14, mas ele acontecerá apenas em um dia. Será neste domingo, em homenagem ao Dia da Mulher, das 8h30 às 13h no campo do Zico, com 10 equipes participantes. A ex-jogadora da seleção brasileira Pretinha marcará presença no local para conversar com as meninas e bater uma bolinha com elas.