Com mais gols que Pelé na seleção, Marta quebrou recordes e mudou futebol

Foto: Reuters

No dia 19 de fevereiro de 1986, nasceu uma menina que mudaria para sempre a história do futebol. Em Dois Riachos, um município pequeno em Alagoas de 11 mil habitantes, veio ao mundo a garota que um dia jogaria para um público seis vezes maior que a sua cidade toda. Marta Vieira da Silva faz 34 anos hoje colecionando recordes dentro dos gramados e mostrando ao mundo todo que futebol é, sim, coisa de menina também.

São seis prêmios de melhor do mundo da Fifa, são 17 gols em Copas do Mundo, a maior artilheira da história dos Mundiais entre homens e mulheres. São 107 gols pela seleção brasileira, o que também faz dela a maior artilheira que já vestiu a camisa amarela. Chamada “Rainha do Futebol”, ela ultrapassou até Pelé nessa estatística – o rei tem 95 gols pela seleção.

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Neste ano, a camisa 10 vai para a sua quinta Olimpíada em busca do tão sonhado ouro inédito. Ela chegou perto dele em 2004 e 2008, quando o Brasil perdeu para os Estados Unidos na final. Diante da falta de investimento e das décadas de proibição, o futebol feminino por aqui sofreu muito para conquistar espaço e foi muito dos pés de Marta que essas portas começaram a se abrir. Num tempo em que o país não tinha sequer um Campeonato Brasileiro para as mulheres jogarem, ela encantava o mundo com seus dribles e seus golaços em campo. Hoje, os maiores especialistas já afirmam que ela é a maior de todos os tempos.

Nos últimos tempos, a história dela tem sido mais contada por aqui. Depois de ganhar o prêmio da Fifa pela sexta vez em 2019, Marta ganhou homenagem na sede da CBF e foi capa das principais publicações nacionais e internacionais. Neste ano, ela será tema até de escola de samba no Rio de Janeiro – a Inocentes de Belford Roxo, do grupo de acesso, levará a jogadora como tema do enredo deste ano na Sapucaí.

“É uma vergonha eu dizer que eu não sabia, mas Marta é muito gigante aqui. E acho que as pessoas na Suécia não entendem o tamanho que ela tem aqui”, afirmou a técnica Pia Sundhage.

Foto: Reprodução

História

Marta começou a jogar futebol quando era criança entre os meninos de Dois Riachos. Jogava no time da cidade, até ser banida do campeonato por ser “boa demais”. “Aqui não é lugar para meninas”, disse um dos treinadores, que não quis colocar o time no campeonato até ter certeza que Marta não jogaria na equipe de Dois Riachos.

Até que, aos 14 anos de idade, ela viajou de ônibus para o Rio de Janeiro para fazer um teste no Vasco. Ficou por lá jogando nas categorias de base e logo chegou à seleção, ainda na adolescência. Enfrentou logo cedo as dificuldades do futebol feminino, quando o time cruzmaltino encerrou as atividades do futebol feminino e ela precisou encontrar outra equipe pra seguir jogando – e sonhando. Foi para Minas Gerais, mas seria temporário. Com o sucesso que fez na Copa do Mundo de 2003, recebeu a proposta que pareceu, de início, trote: um time da Suécia queria contratá-la.

“Achei que era mesmo trote. Eu nem sabia onde ficava a Suécia”, conta Marta. Ela soube logo. Chegou lá no inverno e duvidou que ali pudesse haver futebol. Mas descobriu por lá que a língua da bola é universal e não tem estação do ano para acontecer.

Foto: CBF

Infelizmente, Marta não pode seguir os passos do Rei Pelé fazendo carreira e se tornando ídola absoluta de um único clube. A realidade do futebol feminino não permite algo assim. Os clubes se formam e depois acabam, sofrem com falta de investimento, até mesmo as ligas se dissolvem por não terem como sobreviver – até os Estados Unidos, país modelo para o futebol feminino mundial, sofre para manter vivas as competições e as equipes.

Por conta disso, ela pulou de clube em clube, jogou na Suécia, nos Estados Unidos, passou um tempo no Santos no “dream team” das Sereias da Vila, até parar novamente na Suécia, no Rosengard, e depois voltar ao país do futebol feminino para jogar no Orlando Pride. Conquistou Champions League, Campeonato Sueco, Libertadores, Copa do Brasil, Liga Americana pelos clubes, além de dois ouros em Pan-Americanos, três em Copa América e duas medalhas de prata olímpicas.

Em 2006, aos 20 anos, conquistou pela primeira vez o prêmio de melhor jogadora do mundo da Fifa. Sua primeira indicação havia sido ainda em 2003, quando surgiu para o futebol mundial aos 17 anos já impressionando quem quer que assistisse às suas jogadas.

Foto: AP

Em 2007, 2008, 2009 e 2010, repetiu o feito, tornando-se a primeira jogadora do mundo a conquistar por cinco vezes o prêmio máximo individual do futebol – e cinco vezes SEGUIDAS, diga-se. Depois, em 2018, voltou ao topo.

A existência de alguém tão gigantesca no futebol feminino é importante para as meninas verem que existe alguém que é craque de bola, que faz jogadas geniais, gols inacreditáveis e que, como elas, também É MENINA. Seria uma forma sutil de passar um recado a essas aspirantes a jogadoras: vocês podem. Marta é a prova de que vocês, como meninas ou como mulheres, podem chegar aonde quiserem, aonde sonharem.

Com esses recordes e esse currículo, não dá pra negar que futebol é, sim, coisa de mulher também – e Marta foi uma das grandes responsáveis por quebrar esse tabu.

 

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