Skate vira ‘febre’ entre meninas: presença feminina quase dobrou em 3 anos

Victoria Bassi, de 12 anos, 21ª colocada no Ranking Mundial Park (Foto: Julio Detefon)

Tradicionalmente praticado nas ruas – e na maioria por homens – o skate vive um novo momento no cenário esportivo mundial e com mulheres se destacando nas rampas de concreto. Segundo dados compartilhados pela Confederação Brasileira de Skate (CBSk) com a reportagem, o Data Folha revelou que 8 milhões de pessoas praticam o skate no Brasil, sendo que 2 milhões são mulheres. O levantamento indica que houve crescimento da participação feminina de 75% nos últimos três anos.

E os reflexos disso já podem ser observados nos campeonatos organizados pela entidade. No Circuito Brasileiro de Skate de Park e Street (Oi STU QS) em 2018, 28% das participantes eram mulheres, já em 2019, o número aumentou para 31,7% (considerando universo total de 173 atletas, sendo 118 homens e 55 mulheres).

“A presença feminina dentro do skate e de qualquer outro espaço em que as mulheres queiram estar é uma ótima realidade do nosso tempo. Hoje, a campeã mundial e a vice-campeã mundial de Street são brasileiras. Temos seis representantes entre as 20 melhores do mundo no Street e outras três no Top 20 do Park. Isso sem falar de tantos outros nomes de destaque no cenário nacional que, em pouco tempo, também estarão representando o skate brasileiro pelo mundo. Toda essa projeção só incentivará ainda mais meninas a andarem de skate”, destaca Tatiana Lobo, diretora de Comunicação da CBSk.

Skate para menores 

E foi justamente pensando em rejuvenescer e atrair a atenção dos mais jovens para os Jogos Olímpicos que o Comitê Olímpico Internacional (COI) incluiu a participação do skate no ciclo olímpico deste ano, em Tóquio, na categoria street e park.

Pamela Rosa com o toféu de Campeã Mundial (Foto: Julio Detefon)

Prática originalmente nascida na Califórnia na década de 60, o esporte caiu nas graças dos brasileiros nos anos 90 e atualmente é cada vez mais comum ver meninas adolescentes se destacando. Pamela Rosa, atual campeã mundial na categoria Street e primeira colocada no Ranking, começou a praticar o esporte aos 9 anos de idade. Hoje, com apenas 20 anos, é um dos nomes mais cotados para representar o Brasil em Tóquio.

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Quando começou a competir pra valer, as adversárias de Pamela eram mais velhas e mais experientes do que ela. Isso mostra que até pouco tempo, não era fácil encontrar jovens meninas dropando por aí como acontece hoje em dia. 

“Aos nove comecei a competir com meninas, mas nunca da minha idade. Elas tinham 20 e poucos anos. Quando ganhei o X Games eu tinha 16 anos. As outras meninas que estavam competindo tinham na faixa de 28, 30 anos”, contou Pamela ao blog no ano passado.

Outra menina prodígio do esporte é a Rayssa Leal, vice-campeã mundial na categoria Street e segunda colocada no Ranking, que fez história ao conquistar uma etapa da SLS (Mundial de Skate Street), se tornando a mais jovem atleta a conseguir esse feito, aos 11 anos, em julho de 2019. A atleta maranhense ficou conhecida como “Fadinha do skate” por praticar a modalidade usando roupas de fada com apenas 7 anos.

Rayssa Leal competindo em Londres (Foto: Julio Detefon)

No Brasil, outras adolescentes passaram a se destacar no skate, como Virginia Fortes Águas (13 anos, 10ª colocada no Ranking Mundial Street), Isabelly Ávila (15 anos, 16ª colocada no Ranking Mundial Street), Victoria Bassi (12 anos, 21ª colocada no Ranking Mundial Park) e Raicca Ventura (12 anos).

Para Pamela, Rayssa e demais atletas que seguem participando de competições e pontuando no Ranking, a classificação para Tóquio é a grande meta a ser atingida. 

Manezinha da Ilha e do Skate

Mais uma prova de que o skate tem feito parte da vida de meninas cada vez mais cedo é a história da garotinha Emily Antunes, de 10 anos, que foi incentivada por sua tia Solange a se aventurar em cima da prancha com rodinhas. Caçula da família, ela gostava de andar de skate com os dois irmãos, mas não tinha o seu próprio “brinquedo”, até ser presenteada pela tia.

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Assinando contrato com o maior do estado ✍! TMJ @avaifc e Nação Avaiana ⚪ #atletadoavai #skateboard

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A paixão cresceu e hoje, aos 19 anos, ela é um dos nomes de destaque em Florianópolis e se tornou atleta patrocinada pelo Avaí, seu clube do coração. “A Emily é daqui de Florianópolis, manezinha da ilha e Avaiana. Mora em um bairro bem próximo do nosso estádio e chegou até nós que era uma menina, com grande talento e que precisava de apoio para poder continuar treinando e disputando as competições. Como o Avaí é um clube que apoia diversos esportes olímpicos e também não relacionados ao futebol, iniciamos uma conversa para ver de que forma poderíamos ajudá-la”, nos contou Thiago Pravatto, gerente de Marketing do Avaí Futebol Clube.

Emily é a primeira atleta da modalidade a ser patrocinada pelo clube e, segundo Thiago, a força que o futebol têm pode ser um grande impulsionador para atrair novos públicos e expor a marca de maneira mais ampla. “O Avaí busca apoiar diversos esportes além do futebol, uma vez que pensamos que o futebol pelo apelo que tem e toda mídia que consegue gerar, para fomentar outros esportes que não tem tanta visibilidade, pensando no crescimento do esporte e também dos atletas, como também é muito interessante para exposição da marca com um público totalmente diferente do que normalmente temos. Isso é muito interessante para nós também, sermos vistos como um clube e uma marca que apoia os outros esportes.”

Emily com a atleta da Indonésia, Nyimas Bunga Cinta, que conheceu em competição (Foto: Arquivo pessoal)

A atleta de Floripa – que compete na categoria park -, relembra de como era difícil se inspirar em mulheres no início de sua carreira. “De Florianópolis eu fui praticamente a primeira a andar em transição, eu não tinha nenhuma outra menina por perto. Andava com meus amigos e irmãos. Eu até tinha como referência a Karen Jonz, que já foi campeã mundial e algumas gringas, que também olhava os vídeos delas e tal. Mas eram poucas as referências, hoje ainda tem mais, como a Yndiara Asp, que começou a andar de skate na mesma época que eu”, afirmou ao blog.

Emily conta com o apoio da família e já consegue viver do skate, sem precisar pedir dinheiro para os pais. “Já consigo me virar. Tenho apoio do Avaí e de outra marca, não tenho um patrocínio forte ainda, mas consigo me virar. E as premiações, às vezes, é o que mais rende”.  O apoio do Avaí à atleta inclui o fornecimento de material esportivo, plano de saúde, utilização da estrutura para treino, academia e também auxilio do departamento médico para que a atleta possa fazer tratamento quando necessário.

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Dois ângulos e moments diferentes fs boneless @juliodetefon – @nas_skate @thai.nas

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Para a Avaiana, o fato de conhecer outras garotas, com outros costumes, nas competições é a parte mais legal do esporte. “O que eu acho mais legal do esporte é ir aos campeonatos. Pô, fui pra China com outros brasileiros, ao lado dos meus amigos, então além da competição, a gente tá andando (de skate) junto e estamos nos divertindo”, revelou.

“Conheci algumas meninas na China e no Mundial do Rio de Janeiro. Uma delas é da Indonésia e a gente acabou ficando amiga. Ela é de uma cultura bem diferente, usava burca para andar de skate, ficamos conversando e ela penteava meu cabelo, foi bem legal. E também conheci uma americana de quem sou fã, tiramos uma foto juntas, porque até somos bem parecidas.”

Os nomes confirmados para representar o Brasil em Tóquio serão revelados quase em cima da hora, cerca de um mês antes da competição, já que ainda tem Mundial pela frente e a pontuação do Ranking pode mudar. Emily declara estar tranquila sobre a definição da vaga. “Tô pensando que se tiver essa oportunidade de estar lá representando meu país, eu vou tentar não ficar tão nervosa e viver um sonho de maneira bem natural. Vou tentar estar sorrindo e focada, mas não muito nervosa pra não botar pressão em mim mesma, sabe?”contou. 

Skate brasileiro nos Jogos Olímpicos 

São duas as categorias do skate que estarão em disputa na competição. O street, que é disputado em uma pista que simula obstáculos de rua – escadas, corrimões e rampas – e o park, que acontece em uma pista em formato de bowl onde o atleta precisa enfrentar transições acima de três metros, banks e alguns elementos de street, sendo que os obstáculos “interagem” entre si, ou seja, o skatista consegue completar uma manobra e entrar em outra transição para emendar outras.

Virgínia Fortes Águas, 13 anos, 10ª colocada no Ranking Mundial Street (Foto: Julio Detefon)

Ao todo, serão disponibilizadas 80 vagas, (40 para cada gênero) e 20 para o park e outras 20 para o street. Para cada evento, será alocada uma vaga para o país-sede (Japão), totalizando quatro, e três vagas para os medalhistas dos Mundiais de cada categoria em competições ainda sem data e local definidos em 2020. As 16 vagas restantes serão repartidas via ranking olímpico de 1º de junho de 2020, sendo obrigatória a participação de atletas de todos os continentes. 

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