A quase duas semanas do início de um Campeonato Brasileiro feminino histórico, podemos dizer que já há motivos para comemorar. A série A1 (primeira divisão) deste ano terá um número recorde de equipes profissionais. Dos 16 clubes participantes, dez deles já não são mais considerados amadores – ou seja, 62% dos times que disputarão o torneio.
Isso já é um recorde. No ano passado, de 16, só sete equipes eram consideradas profissionais. Lembrando que os critérios para isso são, principalmente, o registro profissional das atletas na CBF. Isso acontece quando o clube emite o contrato profissional da jogadora no sistema CBF/Fifa (algo que só é possível quando a atleta tem um registro profissional CLT).
É importante ressaltar que, até pouco tempo atrás, era muito raro ver jogadoras de futebol recebendo salários com carteira assinada. Isso era privilégio de poucas. Agora, já dá para dizer que a maioria das atletas que entrarem em campo a partir do dia 8 de fevereiro na primeira rodada do Brasileiro feminino (A1) terá seu registro CLT.
As 10 equipes profissionais da primeira divisão neste ano são: Ferroviária, Internacional, Iranduba, Santos, Vitória e Flamengo (que já eram profissionais em 2019 na disputa da A1), além de Corinthians (que acabou de anunciar a profissionalização), Cruzeiro, Grêmio e São Paulo (que já assinavam a carteira das jogadoras em 2019 na disputa da segunda divisão). Desses, apenas o Vitória (BA) deve ter algumas atletas amadoras neste ano – o clube tinha profissionalizado todas do elenco em 2019, mas com a queda do time masculino para a segunda divisão, irá disputar o torneio feminino com uma equipe de base.
Na segunda divisão, são 36 clubes e a maioria ainda é amadora. Entre os times profissionais que disputarão a A2 neste ano estão América-MG, Atlético-MG, Ceará, Fortaleza e Tiradentes-PI. No entanto, o cenário ainda pode mudar até o início da competição dependendo do que os clubes apresentarem até lá – a segunda divisão começa em março.
Conquista significativa
Essa é uma conquista significativa, porque mostra o quanto a modalidade está em evolução no Brasil. Para se ter ideia, o primeiro clube a profissionalizar suas atletas apareceu apenas em 2015 – foi o Santos, na retomada do projeto do futebol feminino com o apoio do então presidente da época, Modesto Roma. Dali em diante, outros clubes começaram a fazer isso também para “conquistar” as jogadoras. Com o mercado cada vez mais aquecido com a presença dos times de camisa, a carteira assinada pode ser um diferencial para elas.
E é mesmo, se considerarmos que até cinco anos atrás, as jogadoras que atuavam uma vida inteira no futebol se aposentavam com a carteira vazia – tanto a carteira de trabalho, quanto a de guardar dinheiro. Isso porque muitos clubes sequer pagavam salário às atletas – era apenas uma ajuda de custo e, às vezes, uma bolsa na universidade. A carteira assinada era um sonho para elas, que tinham tantas incertezas nessa carreira tão sofrida – quando se tem um registro de trabalho, você tem garantias de FGTS e INSS que podem ser úteis em caso de desemprego, de tempo afastada do trabalho (por lesão, por exemplo) e de aposentadoria.
Próximo passo
Se hoje há 10 dos 16 clubes da primeira divisão que profissionalizaram suas atletas, já começa a ser mais factível imaginar que nos próximos anos, já não haverá mais times amadores no futebol feminino (ao menos na elite do Brasileiro). Foi essa discussão que o técnico do Corinthians Arthur Elias levantou em coletiva de imprensa na última semana.
“O que eu entendo é que a gente está, num curto prazo, num momento de profissionalizar as competições. A CBF, no meu ponto de vista, deveria colocar a série A1 pelo menos em nível profissional, para atletas que tenham registro profissional. Isso gera um investimento maior, mas faz com que o mercado se desenvolva também”, afirmou o comandante corintiano.
Questionamos o Supervisor de competições do futebol feminino da CBF, Romeu Castro, sobre a possibilidade de tornar a série A1 profissional num futuro próximo – o que significaria, na prática, que somente equipes profissionais e atletas consideradas profissionais poderiam estar na disputa.
“Este é um processo que acredito que será irreversível para um futuro próximo. Mas que está sendo projetado com muito cuidado, pensando também na estrutura dos clubes sustentada via projetos incentivados e com participação do poder público. Temos que consolidar os avanços obtidos para garantir a sustentabilidade da modalidade dentro dos patamares estruturais e salariais que o futebol de mulheres merece”, afirmou.
A série A1 do Brasileiro feminino começa no dia 8 de fevereiro e terá pelo menos um jogo transmitido em rede nacional – Palmeiras x Corinthians às 14h do dia 9 de fevereiro terá transmissão na Band.