Com ambição, Ferroviária mantém campeãs e quer brigar por títulos em 2020

(Foto: Jonatan Dutra/Ferroviária SA)

Campeã brasileira, semifinalista do Campeonato Paulista e vice-campeã da Libertadores da América, a Ferroviária viveu um ano intenso e vitorioso em 2019. Sob o comando de Tatiele Silveira, a equipe mesclava a experiência de nomes como o da goleira Luciana, da zagueira Andreia Rosa e da volante Maglia, com a habilidade da craque Aline Milene no ataque.

Não foi nada fácil encarar a imbatível equipe do Corinthians na final do campeonato nacional – que acumulou um recorde com mais de 40 jogos sem perder – e a taça foi decida nos pênaltis, sagrando a equipe do interior paulista  bicampeã da competição. “O ano de 2019 foi muito especial, especialmente pelo título brasileiro e pelo vice da Libertadores. Nós temos objetivos e metas bem traçados para este ano e o principal é defender esse título brasileiro. A gente sabe que a competição vai ser de altíssimo nível, com grandes equipes e fico feliz de estar vivendo esse momento de crescimento e evolução”, afirmou a treinadora Tatiele em entrevista exclusiva às dibradoras. 

+ Brasileiro feminino tem a mesma premiação há 4 anos; campeão levou 120 mil

Para 2020, o elenco da Ferrinha contará com 26 atletas, a maioria delas são remanescentes do ano passado. O grande diferencial do clube para a montagem do elenco neste ano foi valorizar as atletas que permaneceram na equipe, trazer reforços pontuais e promover atletas da base.

“Claro que atletas foram valorizadas e a gente pode ir ao mercado buscar reforços importantes para a temporada de 2020. Apesar da mídia às vezes não dar a devida importância ao tamanho da Ferroviária dentro do futebol feminino, as jogadoras tem essa noção de que o patamar do time hoje é muito grande. Então, a gente consegue igualar nossas possibilidades pela valorização que as atletas tem, pelo projeto e trabalho realizado no clube”, afirmou Tatiele.

Foto: Divulgação

Entre as contratações da Ferroviária estão as meias Patrícia Sochor (que estava no Santos) e Sâmia (que estava no Flamengo/Marinha), a volante Amanda Brunner (estava no Iranduba), a lateral-esquerda Bruna Natieli (que defendeu o 3B da Amazônia em 2019) e a atacante Elisa (que também estava no Iranduba).

Duas atletas estão fazendo a transição da base para o profissional, a atacante Maísa atacante a zagueira Prado. “São meninas que ainda tem idade para ajudar a Ferroviária na categoria sub-18, mas esse ano farão parte do elenco profissional e, no momento competitivo, irão auxiliar nossa base que já tem um trabalho sério e desenvolvido”

Tradição e exemplo

O time feminino da Ferroviária nasceu de uma parceria com a prefeitura de Araraquara em 2001. De lá pra cá, a equipe já foi campeã de tudo entre as mulheres: tetracampeã paulista, bicampeã brasileira, uma Copa do Brasil e uma Libertadores.

Em seis anos de disputa, a Ferroviária foi a única equipe a ser bicampeã do Campeonato Brasileiro feminino. Na campanha da primeira fase do torneio nacional de 2019, a Ferroviária classificou em sétimo lugar, na penúltima vaga, conseguindo a pontuação no sufoco na reta final. Não era favorita diante das Sereias da Vila, atuais campeãs paulistas, nem mesmo diante do Kindermann, terceiro colocado na tabela. Ainda assim, venceu as duas equipes nos pênaltis. 

(Foto: Jonatan Dutra/Ferroviária SA)

A grande final colocou frente a frente o time com a melhor campanha do Brasileirão, o Corinthians (que perdeu uma única vez na competição) e a Ferroviária, que fez um campeonato regular, mas com muita superação dentro de campo. O primeiro jogo, em Araraquara, acabou 1×1 e o feito foi bastante comemorado pelas atletas. Na decisão em casa, o Corinthians tentou de todas as formas furar o bloqueio da defesa afeana e superar a goleira Luciana, grande heroína do time nas fases finais. A decisão acabou acontecendo nos pênaltis e a estrela da arqueira brilhou mais uma vez.

+ Como Ferroviária se mantém no topo, mesmo com grandes no futebol feminino

“O fato da Ferroviária ser um clube de interior não interfere nas nossas ambições. E nós vamos brigar para continuar figurando entre os protagonistas da nossa modalidade. Acreditamos muito no nosso grupo e na qualidade que esse elenco já nos mostrou que tem. Estamos buscando jogadoras de muita qualidade e claro, fomentar o futebol feminino dentro do nosso clube com a categoria de base.”

Os pilares que sustentam o grande trabalho feito pela Locomotiva são: profissionalização das atletas, formação e integração da base com o elenco profissional e gestão. Neste último quesito, a Ferroviária enfrentou uma perda considerável no final do ano com a saída de Ana Lorena Marche, que atuava como gerente de futebol feminino no clube desde 2017 e que, a partir de 2020, será coordenadora de futebol feminino na Federação Paulista de Futebol.

Ana Lorena (a segunda, da direita para a esquerda) ficou dois anos na gestão da Ferroviária (Foto: dibradoras)

Sabendo da importância de contar com uma gestora que conheça e atue na modalidade feminina, a Ferroviária já trouxe uma substituta para ocupar o cargo de Lorena. Será Carolina Vallim de Melo, de 40 anos, ex-jogadora de futebol e tem formação em administração, com mestrado em gestão de negócios e pós graduação em marketing operacional.

“A Lorena fez um grande trabalho na Ferroviária e, com certeza, fez parte e conduziu muito bem o projeto e o elenco formado por ela nessas conquistas. E a Carol é uma nova gestora, uma pessoa que tem o conhecimento dessa parte de grandes grupos, ela vem do mundo corporativo e já trabalhou em grandes empresas, então vai trazer um pouco dessa gestão que ela tem nesse outro ramo”, declarou Tatiele. 

Carol foi goleira do SAAD, onde conquistou o título do primeiro Campeonato Brasileiro Feminino sub-17, em 1997. Jogou também pelo São Paulo, sendo campeã paulista de 1997. Depois, foi atuar nos Estados Unidos, pela equipe do National American University. No país americano, se formou em administração e fez mestrado em gestão de negócios. Também foi treinadora e gestora de futebol universitário. Ficou 15 anos nos Estados Unidos e voltou ao Brasil em 2012, trabalhando como gestora de empresas multinacionais. Carol também é pós-graduada em Marketing Organizacional na Unicamp.

“Ela também traz essa experiência de fora do Brasil no contexto do futebol feminino universitário dos Estados Unidos e a experiência como gestora. Carol vem pra nos conduzir nesse setor extra-campo como uma facilitadora do nosso dia-a-dia, de deixar tudo alinhado para que a gente possa se preocupar exclusivamente com a parte de campo. Ela vai conduzir toda parte de administração e me dar tranquilidade para ter o dia-a-dia com qualidade, estrutura e dando suporte para que a gente possa continuar sendo o mais competitivo possível”, concluiu a treinadora.

Calendário 2020

No ano passado, as fases finais do Paulista precisaram ser reagendadas por conta da Libertadores da América, já que a Conmebol definiu a sede da competição somente no segundo semestre e reservou duas semanas do mês de outubro para a realização do torneio.

+ Confuso, calendário do futebol feminino faz time esperar 40 dias por final

O cruzamento de datas aconteceu por inúmeros fatores, mas a falta de organização, ausência de diálogo com os clubes e a definição tardia por parte da Conmebol sobre a Libertadores foram os principais fatores que bagunçaram o planejamento já traçado pela CBF e FPF. 

Neste ano, há ainda a realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio e, por conta deste evento, haverá uma interrupção no Campeonato Brasileiro entre os dias 31 de maio e 23 de agosto. A FPF ainda irá realizar uma reunião para comunicar os clubes sobre a realização do Paulista Feminino.

Tatiele Silveira, treinadora da Ferroviária (Foto: Ferroviária/Site Oficial)

“Com certeza vai ser um ano muito intenso. Somos privilegiados por estar participando das principais competições do futebol feminino. Por ser ano olímpico, já temos o calendário com aquela parada dos Jogos, então com essa previsão antecipada a gente já consegue direcionar melhor nosso planejamento. Sabemos que vai bater em algum momento, mas esperamos que a gente possa ter um calendário um pouco menos intenso principalmente nos momentos finais e que não aconteça o que aconteceu em 2019 com fases decisivas em conjunto”, disse Tatiele.

+ Quem é a primeira mulher a comandar um time campeão brasileiro de futebol

E assim, desafiando times de camisa, calendário apertado e buscando se manter no topo do futebol brasileiro, a Ferroviária está pronta para encarar mais uma temporada. “Temos os pés no chão, sabemos que vai ser muito difícil, mas nós temos a ambição de defender o título brasileiro, ser competitivo e brigar por outros títulos também em 2020”, afirmou a primeira treinadora a conquistar um título nacional no formato mais recente do campeonato.

Compartilhe

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Leia também