A voz feminina chegou ao e-Sports: conheça Viic, a 1º caster de Rainbow Six

Viic e Ricardo “qeP” na cobertura do torneio disputado em Tokoname no Japão (Foto: Divulgação)

No último final de semana, Victória Rodrigues – mais conhecida como “Viic” – escancarou mais uma porta para as mulheres que são apaixonadas por games. Sua voz ecoou durante uma transmissão oficial de Rainbow Six Siege, jogo de ação e estratégia da Ubisoft e, com isso, ela se tornou a primeira mulher a exercer a função no cenário competitivo da modalidade nas finais mundiais da Pro League – ao lado dos veteranos na categoria, como André “Meligeni”, Ricardo Fugi e Otávio “Retalha”

Viic já havia comentado em campeonatos menores, mas essa estreia em um campeonato Mundial, fazendo parte do ‘time de casters’ oficiais, é especial. “A experiência foi incrível e com certeza esse foi diferente. Para os jogadores, a Pro League é um dos campeonatos mais importantes de Rainbow Six , então era um hype muito grande pra toda comunidade acompanhar esse campeonato. Foi incrível fazer parte desse momento e o primeiro jogo dos brasileiros senti aquele friozinho na barriga ao participar da transmissão e ter aquele momento de estreia, de fato”, contou Viic às dibradoras.

‘Gamer desde que nasci’

Natural de Santos (litoral paulista), a comentarista de 24 anos é jornalista por formação e figura conhecida entre o público que acompanha ativamente o cenário. Mas a paixão por games aconteceu muito cedo. “Cresci numa família só de homens, só tenho primos, então cresci jogando futebol e vídeo game. Joguei muito Mega Drive, Nintendo 164, Playstation, então desde que me conheço por gente o vídeo game sempre fez parte da minha vida e os consoles sempre foram a minha praia.”

Viic e André “Meligeni antes da transmissão (Foto: Divulgação)

Sua carreira como comentarista começou em 2017, quando recebeu o seu primeiro convite para participar de uma transmissão de Rainbow Six Siege.“Eu já cobria campeonatos de R6 em um portal e fui convidada para participar da primeira Superliga Feminina de Rainbow Six. Inicialmente, fui trabalhar no staff. No entanto, a organização havia fechado com duas casters que desistiram uma semana antes. Foi aí que me chamaram para ser comentarista por saberem que eu entendia do jogo. A ideia era que eu participasse apenas das primeiras rodadas, mas acabei ficando o torneio inteiro. Depois disso, a minha ficha caiu e percebi que poderia transformar a minha paixão em profissão”, conta.

Nova carreira

Viic ainda concilia a carreira de analista de comunicação com a de caster, mas no início de 2020 ela pretende se dedicar apenas à vida nos eSports, já que a proposta da Ubisoft é que ela se consolide no time de transmissões oficiais de Rainbow Six, acompanhando todas as competições oficiais, incluindo a Pro League, ‘Brasileirão’ e Majors.

Fazendo uma comparação com o futebol, a Pro League é um torneio com etapas regional e global e é comparável ao “Mundial de Clubes”, e os Majors são uma espécie de “Copa do Mundo”. O Brasileirão é como o Brasileirão do futebol mesmo. Atualmente, acontecem dois majors por ano (fevereiro e agosto) e duas edições da Pro League (uma em cada semestre).

Além de muito estudo – análise de jogos e acompanhar transmissões antigas -, a comentarista também faz um preparo vocal com uma fonoaudióloga para manter intacto seu principal instrumento de trabalho. “É uma coisa que eu me preocupo muito porque tenho problemas respiratórios. E o acompanhamento com a fono é algo que me traz mais segurança de ter a minha voz 100% nos dias de narração e isso faz parte da minha rotina com exercícios que faço em casa de maneira frequente. Também tenho pensado em fazer cursos de locução para melhorar ainda mais.”

#PorqueÉMulher 

Em julho deste ano, a vitória de Camilla Garcia no “Looking For a Caster”, reality show do SporTV, desencadeou uma série de agressões verbais à narradora, escancarando todo o machismo que existe também na área de games.

Parte do público considerou que a escolha de Camilla como vencedora do programa estava relacionada ao gênero da participante e, diante disso, o SporTV e a VIU Hub (unidade de negócios digitais da Globosat), criaram a campanha #PorqueÉMulher, divulgando um vídeo-manifesto nas redes sociais como forma de combater essa discriminação. 

“Tive que enfrentar muito preconceito, muito ódio e ofensas. A hashtag foi criada para todas as mulheres que enfrentam isso todos os dias, não só no esporte ou no e-Sports. Temos provar nossa capacidade, provar porque a gente chegou ali e ouvir que a gente conseguiu algo só porque é mulher é realmente muito triste de se ver hoje em dia”, revelou Milla às dibradoras.

Viic declarou ser privilegiada, já que não enfrentou ataques graves como outras mulheres do cenário. “Conheço casos de pessoas próximas a mim que sofreram coisas terríveis, mas não passei por algo grave. Enfrentei sim assédio e preconceito, e a gente é questionada e duvidada pelo simples fato de ser mulher e isso ainda acontece hoje em dia, mas comigo bem menos porque tenho uma grande aceitação e carinho pela comunidade (dos games)”, revelou.

Camilla Garcia, vencedora do “Looking For a Caster” (Foto: Reprodução Instagram)

Camilla é narradora pontual de campeonatos de e-Sports e participa de transmissões de futebol feminino pela Federação Paulista de Futebol. Para ela, é importante que cada vez mais mulheres ocupem espaços no e-sports e sigam juntas.

“Temos muitas mulheres importantes e talentosas no e-Sports e tenho muito orgulho de fazer parte disso. Se uma narradora chega sozinha é muito ruim, derrubam a gente mais fácil. A gente precisa seguir juntas, de mãos dadas, porque se a gente chegar em bloco, ninguém tira mais espaço da mulher. A conquista não pode ser individual, tem que ser coletiva”, opinou citando nomes de outras mulheres que também ocupam esse cenário como Babi, Felipa e Velma.

Viic segue a mesma linha de Camilla e reforça que quanto mais mulheres estiverem na área, menor fica o preconceito. “Meu conselho é não desistir. E na época (em que a Milla enfrentou ofensas) eu falei pra ela não desistir e não ligar para os insultos. A melhor maneira da gente combater isso é com trabalho. Não adianta eu sofrer assédio e preconceito e me esconder, porque se for assim, a gente não vai lutar contra isso. A melhor coisa é dar a cara pra bater e enfrentar esses caras com trabalho e amor.”

Compartilhe

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn