Final brasileira na Libertadores mostra nova hegemonia no futebol feminino

Foto: Agência Corinthians

Corinthians e Ferroviária entrarão em campo nesta segunda-feira para decidir o título da Libertadores feminina em Quito. Será a primeira vez que a final do torneio sul-americano terá dois representantes brasileiros. E são duas equipes que se conhecem exaustivamente bem: foram 8 confrontos entre elas somente neste ano.

É possível dizer que em 2019 se construiu uma rivalidade à parte entre Corinthians e Ferroviária. Se até ano passado dava para dizer que a maior rivalidade do futebol feminino era entre Corinthians e Santos, as duas equipes de camisa que mais investiam na modalidade e sempre se enfrentavam em decisões – as Sereias foram campeãs brasileiras em 2017 e paulistas em 2018, enquanto o time corintiano ficou com a Libertadores de 2017 (na parceria com o Audax) e o Brasileiro do ano passado – nesta temporada houve o ressurgimento de mais um protagonista na modalidade: a Ferroviária.

(Foto: Tiago Pavini/Ferroviária SA)

O time de Araraquara tem tradição no futebol feminino e investe na modalidade há mais de uma década. Mas quando as equipes de camisa do futebol masculino passaram a investir nas mulheres, a Ferroviária perdeu um pouco de espaço por não conseguir competir em qualidade com times que tinham muito mais orçamento. Só que em 2019, a chamada “Locomotiva” eliminou o Santos nas quartas-de-final do Brasileiro e derrubou a série invicta do Corinthians na decisão, surpreendendo a todos com o título brasileiro. Agora, na Libertadores, os dois times se reencontram de novo, mostrando que há uma nova hegemonia se formando no futebol feminino brasileiro.

Claro que, pelo fato de a modalidade estar em desenvolvimento e cada vez mais times de camisa estarem investindo nas mulheres, esse cenário está em constante mudança. Mas há de se valorizar a supremacia do Corinthians, hoje clube reconhecido por oferecer a melhor estrutura e investimento ao time feminino, e também a presença da Ferroviária como protagonista, mesmo diante de um orçamento mais restrito.

As duas equipes têm por trás uma gestão modelo muito bem trabalhada por duas mulheres que conhecem demais a modalidade e têm muito mérito nos resultados dos clubes: Cris Gambaré pelo Corinthians, e Ana Lorena Marché pela Ferroviária.

As mulheres que gerem o futebol feminino na Ferroviária (Foto: dibradoras)

No comando, o técnico corintiano Arthur Elias já tem um currículo mais recheado, com dois títulos brasileiros, um da Copa do Brasil e um da Libertadores, enquanto Tatiele Silveira surge como uma das vencedoras da nova geração, e se tornou a primeira mulher a comandar um time campeão brasileiro no futebol feminino.

Com 3 duelos no Campeonato Brasileiro (uma vitória do Corinthians e dois empates) e quatro no Campeonato Paulista (quatro vitórias corintianas), na noite desta segunda-feira haverá mais um tira-teima para os dois grandes protagonistas do ano no futebol das mulheres. Corinthians e Ferroviária entram em campo às 21h30 (com transmissão exclusiva do DAZN) e a única certeza é que o Brasil conquistará seu oitavo título em dez anos de competição. 

Corinthians referência

Até dois anos atrás, era consenso entre jogadoras e especialistas na modalidade que o Santos era o melhor time do Brasil no futebol feminino. O clube que oferecia a melhor estrutura e que construiu uma tradição com as chamadas “Sereias da Vila”, que viraram uma marca própria.

O investimento do Corinthians nas mulheres voltou a acontecer em 2016, só que num formato de parceria com o Audax. Hoje, a própria gerente de futebol feminino do clube, Cris Gambaré, reconhece que esse modelo do retorno não era o ideal, mas foi importante para que aos poucos o Corinthians fosse “aprendendo” como fazer futebol feminino.

“Trabalhamos juntos por 12 meses lá e isso foi importante para que tudo desse certo. Nós fizemos a lição de casa na casa dos outros, aprendemos, erramos, acertamos, e optamos por estar no clube em gestão própria. Isso sempre compartilhado com apoio da presidência, da diretoria”, disse Cris.

Foto: Divulgação Corinthians

Foi a partir de 2018 que o time alvinegro desfez a parceria e passou a assumir todos os custos e oferecer toda a estrutura para as mulheres. Atualmente, elas usam a Fazendinha como “casa” e treinam com a mesma estrutura que o Corinthians oferece para a base do futebol masculino.

Mantendo o treinador desde 2016, o Corinthians conseguiu também manter a base de um time que joga junto há três anos e foi se reforçando ao longo das temporadas. A maturidade dessa equipe fez com que o clube assumisse esse protagonismo no futebol feminino, tornando-se o “time a ser batido”. Hoje, elas sustentam uma invencibilidade que já dura 42 jogos e que teve 34 vitórias consecutivas de março a setembro. A última derrota do Corinthians aconteceu em 21 de março, para o Santos.

O desafio do técnico Arthur Elias agora é “vingar” a final do Brasileiro, em que sua equipe desperdiçou muitas chances de gol e acabou perdendo o título nos pênaltis para a Ferroviária. O jogo em Quito poderá garantir o bicampeonato para o Corinthians na Libertadores, mas o primeiro título conquistado pela gestão do clube sem a parceria com o Audax.

Ferroviária retoma protagonismo

Campeã brasileira em 2014 e campeã da Libertadores em 2015, a Ferroviária sempre foi protagonista no futebol feminino do Brasil, mas perdeu espaço com a chegada dos times de camisa. Foram três anos sem chegar nas decisões dos campeonatos e se reconstruindo em uma gestão moderna, que se estruturou fortalecendo as categorias de base para conseguir, dessa maneira, fazer frente às equipes de maior investimento.

Para 2019, o clube de Araraquara apostou na técnica Tatiele Silveira, que havia feito boas campanhas pelo Internacional nos últimos dois anos e foi dispensada ao final de 2018. O início da temporada ainda teve altos e baixos, e a Ferroviária quase ficou fora da fase final do Brasileiro, classificando-se apenas com a sétima colocada entre os oito que avançaram. Mas o grupo amadureceu no torneio e cresceu demais na fase final, derrubando Santos, Avaí Kindermann e Corinthians para conquistar um título que era considerado pouco provável até mesmo pelos mais otimistas dentro do clube.

Ferroviária de Araraquara: campeã em 2015 (Foto: Conmebol)

Agora, a chance de disputar uma Libertadores, que veio “por acaso”, depois da desistência de Rio Preto (vice-campeão e detentor da vaga, que acabou com o futebol feminino) e do Flamengo (terceiro colocado que optou por não participar), e que também teve superações ao longo da campanha. A Ferrinha chegou a perder o terceiro jogo da primeira fase e se classificou em segundo lugar, pegando o atual campeão da Libertadores Atletico Huila nas quartas. Nessa partida, o time comandado por Tatiele conseguiu uma virada importante e se garantiu na semifinal, enfrentando o também tradicional Cerro Porteño – a vitória foi dramática, por 2 a 1 e muito comemorada pelas jogadoras no momento do apito final.

E, para além de disputar o título nesta segunda, a Ferroviária também já está garantida na Libertadores feminina de 2020 como uma das representantes do país por conta do título brasileiro deste ano.

 

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