Lista ‘repetida’ de Pia na seleção gera desconfiança: valeria testar mais?

Foto: CBF

A técnica Pia Sundhage fez, nesta quinta-feira, sua terceira convocação à frente da seleção feminina de futebol. Os nomes, mais uma vez, mudaram bem pouco. Foram três atletas diferentes entre as que já foram chamadas por ela antes. E a repetição de jogadoras que já não renderam bem na equipe de Vadão e permanecem nas convocações já começam a gerar críticas da torcida nas redes sociais.

Os nomes anunciados pela treinadora sueca se reunirão no início de novembro na China para disputar um torneio amistoso contra as próprias chinesas, o Canadá, e a Nova Zelândia entre 7 e 11 do próximo mês. Entre as novidades estão a zagueira Rafaelle, que era presença constante na seleção feminina, mas ficou um ano afastada por uma sequência de lesões, a meio-campista Andressinha, recuperada também de contusão, e a zagueira Tayla, que esteve na Copa do Mundo, mas ainda não havia sido convocada por Pia.

A atacante Cristiane, artilheira do Brasil no Mundial, mais uma vez ficou de fora, mas a explicação foi dada pelo preparador físico da seleção, Fábio Guerreiro. “Nós estamos acompanhando de perto o retorno da Cris após dois meses parada. Ela jogou o primeiro jogo 45 minutos, depois mais dois jogos de 90 minutos. A gente está controlando e em contato com o pessoal da comissão técnica do São Paulo e temos um planejamento para ela na convocação de treinamentos em dezembro e janeiro”, esclareceu.

 

É verdade que há muitas jogadoras pedindo passagem na seleção feminina que ainda não foram chamadas em nenhuma convocação por Pia Sundhage. E outras que permanecem na lista mesmo quando são reservas em suas equipes e não apresentam bom rendimento na seleção há algum tempo. Por tudo isso, questionamos a sueca sobre essa repetição da lista, especialmente no meio-campo, setor que ela descreve como essencial para seu estilo de jogo e sobre o qual ela tem reclamado nos últimos amistosos. Das seis convocadas agora, só uma é novidade (Andressinha, que estava lesionada das últimas vezes).

“Formiga está indo bem, ela será a base, vamos dizer assim. Mas futebol é sobre um trabalho coletivo, algumas jogadoras vão bem com outras. Agora, a questão é: podemos ter uma atacante jogando no meio com Formiga? E quais as consequências disso com relação à defesa? Aos poucos acho que podemos achar uma algumas que serão boas para a Olimpíada”, afirmou.

“Estou impressionada com a Luana no meio, ela é ótima em todos os lados e a combinação com a Formiga funciona, mas não é suficiente. Acredito que se a Formiga jogar de volante, ela pode atuar por 90 minutos, mas tem que ter jogadoras correndo por ela e hoje o que acontece é o contrário. Precisamos de um complemento (nesse meio-campo) e é isso que estou buscando”.

Foto: CBF

As buscas de Pia para esse setor (e para outros também), no entanto, têm sido dentre as mesmas opções. As críticas que ela começa a receber de quem acompanha de perto a modalidade é pela falta de ousadia nos testes (não na hora de testar todas as atletas nos jogos, mas sim na hora de chamar novas opções para testar na convocação)

É claro que o tempo é curto até a Olimpíada do ano que vem e, até por isso, talvez fizesse mais sentido convocar novidades agora do que deixar para testá-las em 2020. Então se, por um lado, Pia não decepcionou nos amistosos, sabendo fazer as mudanças certas taticamente para tirar o melhor de sua equipe em campo e conseguir as vitórias, por outro fica a expectativa pela tal “renovação” tão esperada na seleção feminina e sobre a qual tanto se fala desde a Copa do Mundo.

Crédito para a sueca

Também não dá para dizer que Pia está completamente equivocada em sua convocação. Uma treinadora experiente, bicampeã olímpica e que, em apenas quatro amistosos à frente da seleção, já mostrou o potencial que tem para fazer esse time render muito mais dentro de campo.

 

Se ela não desse chances a jogadoras que não foram tão bem no Mundial, provavelmente nunca teria tido a oportunidade de conhecer Ludmila e modificar seu posicionamento em campo para tirar o melhor dela. Uma das atacantes mais criticadas do Brasil na França virou uma arma potente sob o comando de Pia no ataque brasileiro – com muita velocidade, um bom posicionamento e ainda precisando trabalhar melhor na finalização.

Então é claro que Pia merece crédito por toda a história que construiu no futebol. Não é por isso que deixaremos de levantar também críticas pela pouca ousadia nas convocações, mantendo a mesma base de atletas já chamadas por Vadão ao longo dos últimos anos (sendo que algumas são bastante questionáveis pelo rendimento – ou falta de – que têm em seus clubes).

Foto: CBF

De todas as formas, também é preciso valorizar algumas mudanças que já têm a assinatura da sueca. É o caso do espírito vencedor do time e da postura mais corajosa em campo, de reagir às alterações táticas promovidas no intervalo para conseguir vitórias que pareciam pouco prováveis – foi o caso do jogo contra a Inglaterra, por exemplo.

“Vencer é contagioso. Os Estados Unidos venceram muito e nem imaginam que podem perder, então essa sensação que você constrói com as jogadoras é contagiosa. O resultado é importante, mas a mudança também. Não podemos esperar o segundo tempo para mudar, temos que conseguir isso desde o início. Precisamos de coragem, foi o que eu disse a elas, coragem para impor o ritmo brasileiro”, disse.

“Sinto que posso aprender com o estilo brasileiro (de jogar). E também vejo muita gente curiosa com relação a mim por ser mulher e sueca e, quando você está curioso, você aprende alguma coisa. E eu aprendo também. Acho que esse encontro de duas culturas é muito positivo no futebol”.

Como a própria Pia disse ao longo da entrevista, “para ter sucesso, é preciso cometer alguns erros”. Não adianta achar que o processo de reformulação da seleção feminina será perfeito. Mas ainda acreditamos que ele vai acontecer sob o comando da sueca e que vai trazer a evolução da modalidade como um todo por aqui.

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