Onde está o pessoal do futebol feminino após a Copa do Mundo?

Foto: CBF

A Copa do Mundo feminina foi um marco na história do futebol das mulheres e, no Brasil, ela registrou audiência recorde. Foram dezenas de milhões de pessoas acompanhando os jogos e “descobrindo” a seleção brasileira no último mês de junho. Nunca na história desse país se falou tanto de futebol feminino como neste ano.

É natural que seja um assunto novo para muita gente, que nunca tinha ouvido falar nem mesmo sobre a existência de uma Copa das mulheres. Para a própria mídia, em geral, o tema era novidade, porque não havia esse costume de cobrir a modalidade nos principais veículos do país. Mas o futebol feminino, assim como todos os esportes considerados “de nicho” (basicamente todos que não são futebol masculino), sempre teve seus eternos e fiéis “escudeiros”. Torcedores que acompanham todos os jogos e jogadoras, mesmo diante de tantas dificuldades para se conseguir assistir a eles, e veículos independentes, que foram surgindo ao longo dos anos justamente para suprir a necessidade de informações e histórias sobre a modalidade – algumas delas que nem o Google trazia.

Mas há um aspecto que tem se mostrado diferente quando o assunto é futebol feminino. Os haters, claro, sempre existiram e gritaram mais alto do que nunca em 2019, pelo tamanho da visibilidade que se deu para a modalidade. E enquanto eles repetiam “ninguém liga”, a estreia da seleção na Copa feminina batia 20 milhões de espectadores; enquanto insistiam “não dá audiência”, o Brasil registrava a maior audiência da história dos Mundiais femininos no mundo todo; enquanto chiavam “o futebol feminino é chato”, a seleção protagonizava o gol mais bonito da Copa e colecionava recordes com Marta, Cristiane e Formiga. Cada uma das “verdades absolutas” daqueles que “torciam contra” o futebol feminino caiu por terra. E aí, ao término da Copa, restou a eles chamar atenção de outra forma.

“Cadê o pessoal do futebol feminino após a Copa do Mundo?”. Dia sim, dia não, aparece alguém fazendo essa convocatória nas redes sociais. Nesta semana não foi diferente, lá veio de novo a mesma pergunta em tom de deboche e desprezo. Desta vez, foi um jornalista esportivo, do qual se esperaria ao menos um pouco mais de apuração e responsabilidade, como pede a profissão. Ele chamou, o pessoal apareceu. A resposta de quem trabalha e acompanha a modalidade veio como uma avalanche. Foram centenas de respostas de jornalistas, torcedores e amantes do futebol feminino marcando até churrasco no tuíte do homem. Sobraram notificações e muito amor para o tanto de ódio que se tenta difundir contra o futebol feminino.

 

O curioso de tudo isso é que essa “cobrança” nunca aparece para outras modalidades. Afinal de contas, grandes torneios em que brasileiros se destacam sempre geram um envolvimento muito maior de todo mundo – não só dos fiéis amantes daquele esporte em específico. Foi assim nos Mundiais de Surfe que Gabriel Medina venceu – quanta gente virou especialista ou comentou sobre o feito na época? Quantos pediram mais atenção à modalidade, mais investimento? E agora, quantos estão falando disso? Só aqueles que realmente gostam e acompanham surfe. O resto, veja só, sumiu. Mas não tem ninguém nas redes sociais cobrando a manifestação deles, não é mesmo?

Poderíamos citar aqui vários exemplos. Inclusive da própria Copa do Mundo masculina, afinal de contas tem muita, muita gente mesmo que não acompanha futebol, mas para pra ver e falar sobre a Copa. E depois essa poeira baixa e continuam a falar somente os que realmente se interessam sobre o tema. É normal que exista um “auge” em um torneio desse porte.

No caso do futebol feminino, o “pessoal” que sempre falou da modalidade continua falando. E o ponto positivo é que a Copa trouxe vozes novas. Trouxe mais espaço também. Por exemplo, tem jogos de futebol feminino toda semana na TV aberta (domingo às 14h na Band); nas últimas semanas, teve a exibição dos gols da semifinal e final do Brasileiro feminino no Fantástico, horário nobre da Globo; a Rede Vida também passa todo sábado jogos do Paulista feminino; o Twitter também entrou nas transmissões e mostra jogos do torneio nacional; na Rádio CBN, tem quadro fixo sobre futebol feminino duas vezes por semana; os programas esportivos têm trazido notícias e histórias sobre jogadoras; a Folha de S. Paulo tem uma coluna semanal sobre futebol feminino.

Foto: Museu do Futebol

Poderíamos listar aqui tantas outras novidades que vieram durante ou depois da Copa do Mundo feminina deste ano como uma resposta aos recordes de audiência que mostraram que há, sim, interesse no futebol das mulheres. Poderíamos também listar os nomes de quem sempre falou desse assunto, de sites como o Planeta Futebol Feminino, que é uma enciclopédia sobre a modalidade no Brasil e no mundo. Nunca foi tão “fácil” encontrar informações sobre futebol feminino. Quem acompanha esse tema há mais tempo vai saber o quanto era difícil confirmar as coisas mais básicas como o placar de um jogo do Brasileiro feminino ou até mesmo da seleção brasileira em amistoso. Assistir a um jogo, então, era algo quase impossível, quase sempre dependendo de uma transmissão pirata encontrada na internet.

Tudo isso para dizer que o pessoal do futebol feminino está aqui e sempre esteve – a notícia é que está aumentando cada dia mais. A cobertura da mídia ainda poderia ser maior, mas o que se tem hoje já é muito mais do que foi feito no passado. E os que se incomodam com a modalidade ou simplesmente não gostam de ver mulheres jogando futebol, a dica é bem simples: é só não assistir. Não precisa criticar quem assiste ou tentar convencer os outros que é chato, muito menos “cobrar” em tom depreciativo por algo que tanta gente já luta há tempos. Ninguém é obrigado a gostar de nada. As mulheres resistiram até mesmo a uma proibição por lei por quatro décadas e não pararam de jogar. Acham mesmo que elas vão parar por causa de vocês?

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