Era para ser apenas a terceira rodada do US Open, importante Grand Slam nova-iorquino, mas o duelo entre a japonesa Naomi Osaka e a norte-americana Coco Gauff ficou marcado para além do resultado dentro da quadra.
O encontro entre a número 1 do mundo e a jovem promissora de apenas 15 anos emocionou muita gente pela quebra de protocolo das atletas após o final da partida – vencida por Osaka pelas parciais de 6-3 e 6-0 em pouco mais de 1h de jogo. O abraço, o choro, a admiração e a sororidade das tenistas foi o destaque da competição.
A relação de proximidade entre Osaka e Coco já existe há algum tempo, e mesmo com a diferença de seis anos de idade de uma para a outra, as duas já treinaram juntas na Flórida, suas famílias são próximas e se conhecem há bastante tempo.
Em setembro do ano passado, Osaka ganhou os holofotes ao derrotar Serena Willians na mesma competição e sagrar-se campeã em um jogo muito complicado – onde Serena e o árbitro discutiram e ela se exaltou bastante durante a final. O título da japonesa ficou marcado pelas reivindicações da ex-número 1 do mundo e, diante de toda aquela confusão, Osaka se manteve tranquila no jogo, comemorou de maneira tímida, mas fez questão de afirmar em entrevistas que a rival sempre foi sua grande inspiração.
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No último sábado (31/8), Osaka enfrentou Gauff, que participou do US Open como convidada e vem se destacando e pontuando no ranking da WTA. Ela já havia disputado o torneio de Wimbledon sem precisar realizar partidas de classificação para os jogos das chaves principais. Na mesma competição, ela venceu três jogos, um deles sobre Venus Williams, irmã de Serena e cinco vezes campeã do torneio.
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A própria Serena falou sobre o potencial de Gauff durante o Aberto dos Estados Unidos. “Acho que ela tem muito talento. Qualquer pessoa que tem 15 anos e joga assim vai atrair muita atenção. Eu acho genial.”
E o duelo da garota de 15 anos contra a número 1 do mundo foi marcante quando a partida chegou ao fim . É de praxe ver a vencedora da partida conceder entrevista ainda na quadra, mas Osaka pediu à adversária que ela também falasse. Visivelmente emocionada, a tenista recusou o convite porque declarou que iria chorar.
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Depois de Osaka convencê-la, o discurso de Gauff foi bonito e tocante: “Ela me disse que fui incrível e desejou boa sorte. E perguntou se eu poderia dar a entrevista com ela. Eu disse que não, porque sabia que iria chorar o tempo todo, mas ela me encorajou a dar a entrevista”, disse a tenista em meio a soluços emocionados.
Quando perguntada sobre a experiência de disputar seu primeiro US Open e jogar contra a número 1 do mundo, Gauff também não poupou elogios. “Foi incrível, ela foi incrível. Eu aprendi muito durante essa partida. Além disso, ela tem sido muito carinhosa comigo, então muito obrigado por isso”, declarou a novata enquanto o público aplaudia.
A repórter ainda fez uma última pergunta, sobre a disputa de duplas que Gauff iria jogar com sua parceira, Caty McNally. Gauff responde sobre a expectativa para o próximo jogo e agradece, mais uma vez, Osaka pelo momento. “Não quero que as pessoas achem que estou tentando roubar a cena dela porque ela representa muito. Obrigada!”
Depois disso, a japonesa abraça mais uma vez a norte-americana e retribui a mensagem recebida pela adversária. Nesse momento, Osaka também cai no choro ao falar especificamente sobre o apoio dado pela família de Gauff à atleta. “Vocês criaram uma grande jogadora. Eu lembro de ver vocês treinando no mesmo lugar que a gente. Para mim, o fato de que nós duas conseguimos e que continuamos trabalhando o mais duro que podemos, penso que é incrível. Eu acho que vocês são incríveis. Coco, você é incrível.”
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Lutar e se apoiar
O tênis tem muito forte em seu DNA a luta por igualdade de gênero na modalidade. Tudo começou com Billie Jean King, na década de 70, quando uniu as atletas e fundou a WTA (Associação Mundial das Tenistas) numa tentativa de pressionar o mundo do tênis por igualdade. Deu certo já naquela época e foi o próprio Aberto dos EUA que se tornou o primeiro grande torneio de tênis a pagar a mesma quantia de dinheiro em prêmio tanto para homens quanto para mulheres.
A luta das atletas no esporte não é diferente da luta das mulheres na sociedade. E a competitividade feminina sempre foi alimentada por gerações, onde sempre foi comum desmerecer uma mulher para reforçar as qualidades da outra, seja entre amigas, familiares, colegas de trabalho, entre outras.
O livro “Vamos Juntas – O guia da sororidade para todas”, da jornalista Babi Souza, fala sobre o assunto. No prefácio, assinado por Marcia Tiburi, filósofa, escritora e política brasileira, uma reflexão vem à tona. “Esqueça as mentiras que te contaram. As mulheres não são falsas, não são rivais, invejosas ou interesseiras. Nada disso é intrínseco à condição feminina. Assim como os homens, as mulheres experimentam todos os tipos de sentimentos, sejam eles bons ou ruins. Pense em alguém que estaria ao seu lado em um momento delicado de sua vida. Qual a possibilidade de ser uma mãe, uma irmã, uma amiga, uma mulher?”
Com o passar dos anos e com o entendimento do feminismo, as mulheres começam a praticar muito mais a sororidade do que a rivalidade. O conceito da palavra define a união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum.
O momento protagonizado por Osaka e Gauff dias atrás ganhou muito destaque na mídia e entre os apaixonados pelo esporte. Que bom, mas é importante que o gesto não seja visto como algo “fora do comum”, mas sim como um exemplo, como uma inspiração, um ato normal e que pode ser praticado por qualquer ser humano.
“Seja uma mulher que levanta outras mulheres”, diz uma famosa frase feminista. E Osaka fez justamente isso no último sábado. Daqui a algum tempo, será a vez de Gauff transmitir experiência e apoio para uma possível sucessora. Afinal, não existe luta sozinha!