Foto: CBF
A seleção brasileira entrou em campo pela primeira vez após a Copa do Mundo feminina com poucas alterações na escalação. Na prática, foram apenas duas: Erika, cortada por lesão no Mundial, substituindo Monica na zaga, e Luana no meio-campo. Mas mesmo sem alterações significativas entre as titulares, o que mudou mesmo foi a postura da seleção brasileira em campo e a aplicação tática do time comandado pela estreante Pia Sundhage.
O esquema adotado por ela foi um 4-4-2, o mesmo usado por Vadão, mas com ajustes na ocupação de espaços dentro do campo. A sueca saiu com Bárbara; Leticia, Kathellen, Erika e Tamires; Formiga, Luana, Andressa Alves e Debinha; Bia Zaneratto e Ludmila. O resultado em campo diante da Argentina no Torneio Internacional realizado no Pacaembu foi animador: 5 a 0 com gols de Ludmila, Formiga, Debinha e Erika, além de um gol contra da Argentina.
É claro que a fragilidade da adversária deve ser levada em consideração. A seleção brasileira é a décima do ranking da Fifa, enquanto a Argentina é somente a 34ª. O jogo inteiro foi com as hermanas tentando se defender, e o Brasil pressionando no campo de ataque. Ainda assim, as diferenças foram nítidas, tando no aspecto defensivo, quanto no ofensivo. Trazemos aqui algumas delas.
Na imagem da esquerda, o jogo entre Brasil e Itália na Copa do Mundo, onde não havia meio-campo, e as jogadoras estavam todas espaçadas. Olha a diferença para o jogo de hoje, na foto da direita. Ocupação de espaço faz diferença (e até ganha jogo). pic.twitter.com/6kZ6Z8bwnn
— dibradoras (@dibradoras) August 30, 2019
1 – Linhas compactas
A primeira coisa fácil de se observar foi a proximidade das linhas do Brasil em campo. Se na seleção de Vadão havia um espaço exagerado entre elas, que forçava passes longos para conseguir a construção de jogadas, no time comandado por Pia as jogadoras estão mais próximas.
A saída de bola do Brasil na Copa tinha as zagueiras ligando com as laterais em passes mais longos e, das laterais, a bola já ia para o ataque – muitas vezes com um erro de passe que possibilitava o contra-ataque das adversárias. Obviamente, a margem de erro de passes com bolas alongadas é muito maior.
Com Pia, a saída de bola tem o meio-campo se aproximando para receber e dar opção às zagueiras. Não há tanta pressa em mandar a bola para frente, a construção da jogada acontece desde a defesa e com passes mais curtos. Luana (principalmente) e Formiga faziam parte dessa transição, que conduzia a bola para o setor ofensivo sem forçar ligações direta pelos lados. Ao contrário do que se via na seleção de Vadão, que tinha um meio-campo esvaziado e muitos buracos no campo, o time de Pia estava mais compacto.
Isso possibilitou que o Brasil agredisse mais o adversário sem tantos erros de passe e, consequentemente, sem ceder tantos contra-ataques. Além disso, deu mais mobilidade para as jogadoras de frente.
2 – Variação no ataque
A consequência dessas linhas compactas foi possibilitar uma mobilidade maior para as atacantes. Como o Brasil não estava tão espaçado, ficava mais fácil para as quatro jogadoras da linha de frente trocarem de posição e confundirem as adversárias.
Com o antigo treinador, Ludmila jogou de ponta, mais como uma velocista pelo lado, uma característica que não explora o que ela tem de melhor, que é a presença de área. A impressão que ficou da Copa é que a camisa 19 do Brasil “não sabia chutar” (ela foi uma das mais criticadas no Mundial após assumir o lugar de Andressa Alves machucada). Mas Ludmila é uma das grandes goleadoras do futebol espanhol jogando pelo Atlético de Madri. O que faltava para ela era liberdade para entrar mais na área e finalizar de frente para o gol. Foi dela, inclusive, o primeiro gol brasileiro, em uma ajeitada bonita da Bia Zaneratto, com um chute na medida de Lud.
O que se viu no campo ofensivo foi uma variação grande de posicionamento das atacantes. Começou com o mesmo estilo de Vadão, com Andressa Alves e Debinha nas pontas. Mas isso ia mudando de tempos em tempos ao longo do jogo. Houve momentos em que Bia chegou pelo lado, avançou à linha de fundo e cruzou. E que Andressa Alves e Debinha apareceram dentro da área para finalizar. Isso colocou um nó nas marcadoras argentinas, que não conseguiam acompanhar a velocidade/criatividade do Brasil no ataque.
3 – Organização defensiva
Eis aí a maior diferença implementada por Pia em tão pouco tempo de treinamento. O Brasil teve sua defesa muito criticada na Copa do Mundo – e com razão. Eram muitos os espaços deixados e a liberdade com que as adversárias chegavam no nosso campo defensivo.
A sueca quase não mexeu nas peças desse setor. Mas mudou muito a postura da seleção em campo. Ao longo da semana, Pia reforçou muito a ideia que tem de jogo, que envolve todas as jogadoras cumprindo um papel defensivo na hora da perda da bola. Quando a adversária tinha a posse, não havia sossego do lado brasileiro enquanto não desse o bote para recuperar. A jogadora mais próxima chegava para marcar, as outras fechavam os espaços e diminuíam as opções de passe das hermanas. Isso fazia com que a recuperação de bola viesse muito mais rápido. E fez com que a goleira Barbara fosse pouquíssimo acionada no gol.
Pia falou muito sobre trazer a organização defensiva da Suécia para o Brasil e potencializar a técnica dos talentos que temos aqui para um ataque mais efetivo. Foi isso que começamos a ver em campo neste jogo contra a Argentina. A adversária ainda é frágil, mas a seleção sequer sofreu em campo desta vez – algo que aconteceu, por exemplo, diante da Jamaica na Copa, quando enfrentamos uma oponente ainda mais fraca.
A primeira impressão da sueca é promissora.