Por Juliana Lisboa, de Salvador, para coluna “~dibres com dendê”
Agora é oficial: o Bahia não vai renovar a parceria com o Lusaca e vai assumir a gestão do futebol feminino por conta própria já no Campeonato Baiano, previsto para começar em novembro. A decisão de não renovar a parceria foi comunicada na semana passada pela diretoria do tricolor baiano ao apresentar o balanço da gestão acompanhado por metas futuras.
Mas não estava muito claro como seria essa transição – já que a parceria entre Bahia e Lusaca está vigente até novembro deste ano -, e nem por quê a decisão de criar o núcleo de futebol feminino foi anunciada tão antes do final do acordo. Em 2019, o Bahia estreou no Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino disputando a Série A2, mas foi eliminado nas oitavas de final pelo América-MG. No sub-18, ainda não venceu.
De acordo com o vice-presidente do Bahia, Vitor Ferraz, desde que o tricolor soube que precisaria manter ao menos uma equipe feminina, tinha interesse em administrar o núcleo.
“A gente não tinha essa expertise com o futebol feminino e procuramos o Lusaca para dar um apoio para que a gente pudesse abreviar esse caminho. A parceria teve sua relevância, mas tivemos alguns percalços, por assim dizer. As circunstâncias não foram da forma que a gente tinha imaginado. Diante disso, para melhorar a estrutura e acolher as atletas de uma forma mais satisfatória, com o padrão de qualidade que o Bahia está acostumado, a gente está conversando para internalizar essa estrutura o mais rapidamente possível”.
Além das questões estruturais, denúncias por parte de jogadoras acabaram acelerando o processo. Algumas atletas, que pediram anonimato, acusaram o Lusaca de não-pagamento de salários, que chegou a três meses de atraso. Questionada, a diretoria do Lusaca informou que o acerto com as jogadoras não previa remuneração fixa.
“O que todas sabem é que não existe remuneração, o que o clube sempre fez foi distribuir entre elas qualquer tipo de receita oriunda de patrocínio ou doação”, disse o presidente do clube, Djailton Conceição. Ainda de acordo com a diretoria, o clube não conseguiu mais patrocínios desde que foi firmada a parceria com o Bahia. Os valores que o tricolor adiantou ao clube como previsto em contrato, cerca de R$ 80 mil, não teriam entrado nessa cota de patrocínios ou doações.
Só que não foi esse o acerto que as atletas disseram ter feito com o Lusaca no início da temporada, e o atrito cresceu.
Quando a denúncia chegou à diretoria do Bahia, o tricolor assumiu a remuneração das jogadoras – isso foi confirmado pelas mesmas atletas que reclamaram dos atrasos. O Bahia preferiu não comentar esse assunto.
O vice-presidente não definiu uma data para a conclusão da migração da parceria para um núcleo, mas explicou que o Bahia pretende incorporar alguns profissionais da equipe vigente. “A gente já está começando a administrar o futebol feminino de forma direta. Vamos aproveitar parte das pessoas que já fazem parte da parceria e que não faria sentido não aproveitar. Pensamos em trazer pessoas nossas também. Faremos também toda a gestão logística, de treinamento e alojamento que, dentro da parceria, é de responsabilidade do Lusaca”, pontuou.
Além disso, a ideia é que tanto a equipe principal quanto as categorias de base sejam transferidas para a Cidade Tricolor, no centro de treinamento em Dias D’Ávila. Ferraz preferiu deixar o prazo em aberto, mas explicou que a equipe feminina, assim como a masculina e as categorias de base, irão treinar lá.
A iniciativa do Bahia em assumir a gestão do futebol feminino é ótima e necessária. Com os clubes abraçando o futebol feminino, a modalidade só tem a crescer e a competição nacional também se fortalece. É preciso avançar e oferecer para as mulheres as mesmas oportunidades dadas aos homens. Só assim o desenvolvimento acontece.