*Por Roberta Nina e Renata Mendonça
No último jogo da seleção feminina na Copa do Mundo contra a Austrália, além de sentir o gosto amargo da derrota de virada por 3×2, o time brasileiro sentiu também a ausência de uma de suas líderes em campo: a camisa 8, Formiga.
A meio-campista foi substituída no intervalo da partida e muita gente acreditava que motivo da troca teria acontecido por conta do cartão amarelo que a jogadora levou no primeiro tempo. Como era seu segundo cartão na Copa, Formiga já estaria automaticamente fora do último confronto da equipe brasileira contra a Itália.
Mas, na verdade, o motivo que levou o técnico Vadão a sacá-la do time foi uma leve entorse no tornozelo esquerdo. A atleta havia sentido um incômodo no mesmo pé no primeiro jogo contra a Jamaica. Foi a campo contra Austrália e em um momento da partida, um movimento a fez sentir dor novamente e ela avisou a comissão técnica.
Esses detalhes sobre a lesão de Formiga foram relatados por Marco Aurélio Cunha, coordenador de futebol feminino na CBF, durante o treino da equipe nesta tarde de sábado, no Stade Jean Jacques, em Lille.
Foi Marco Aurélio quem acompanhou Formiga após a substituição e ficou com ela no vestiário vendo o jogo pela TV – já que o médico da comissão técnica, Nemi Sabeh, não podia deixar o banco de reservas durante o segundo tempo.
O dirigente – que também é ortopedista – revelou que aplicou uma injeção anti-inflamatória na jogadora e que se espantou ao vê-la se queixar de dor. “Eu nunca vi Formiga reclamar de dor nenhuma. Vimos o jogo juntos no vestiário e ela chegou a ficar com lágrimas nos olhos, com certa emoção, pelo momento”, nos disse Marco Aurélio.
Ainda não foi feito nenhum exame para constatar o grau da lesão de Formiga, mas ela será avaliada nos próximos dias. Como a meio-campista não jogará contra a Itália, nesta terça-feira, ainda terá um tempo de recuperação, caso o Brasil avance para as oitavas-de-final.
Na coletiva de imprensa pós-treino, Bia Zaneratto falou sobre a importância de ter Formiga em campo e de se dedicarem em campo pela companheira, que disputa sua sétima e última Copa do Mundo.
“Com certeza é o pensamento de todo mundo dar um passo a mais pra continuar (na Copa) pela importância da modalidade. E com certeza a Formiga com seus 41 anos de idade e o tanto que ela corre naquele meio de campo é impressionante, e a gente vai fazer isso por ela também e por todas as meninas que venham se aposentar depois da Copa ou não. E com o resultado positivo a gente vai poder dar seguimento e elas vão poder nos ajudar muito ainda”, declarou Bia.
Como fica o Brasil sem Formiga
É muito difícil imaginar uma seleção brasileira em Copa do Mundo sem Formiga – porque desde 1995, quando disputou seu primeiro Mundial, a meio-campista é dona da posição e uma das principais jogadoras do Brasil. Jogar sem a veterana até já aconteceu em amistosos, mas em Mundiais é uma novidade com a qual o time de Vadão está tendo que se acostumar.
Com poucas opções convocadas pelo treinador para o meio-campo, não tem muito mistério sobre quem deverá entrar no lugar da camisa 8: ou será Luana, ou será Andressinha (a outra meio-campista levada por ele é Thaísa, que já é titular). As duas costumam atuar mais avançadas, diferentemente de Formiga, que joga mais recuada, protegendo a defesa e sendo a responsável pela saída de bola.
O técnico optou por Luana no jogo contra a Austrália. A jogadora tem 26 anos e tem poucas experiências atuando pela seleção principal. Ela passou pela seleção sub-20, sua primeira convocação para a equipe adulta foi nessa época, em 2012, depois teve uma chance na época que Emily Lima era treinadora, em 2017, mas não foram muitos minutos em campo. A jogadora foi titular apenas duas vezes atuando pela seleção principal em 2013, depois disso não mais.
Já Andressinha é mais jovem, mas tem mais experiência. A jogadora tem 24 anos e atuou até mesmo como titular do Brasil na Copa do Mundo de 2015, esteve na Olimpíada de 2016 – quando era reserva na equipe de Vadão – e acumula experiências em times americanos, como Houston Dash e agora Portland Thorns. Ela tem um grande potencial na bola parada – é exímia cobradora de falta – e rende muito bem jogando como articuladora no meio-campo, dando ritmo ao jogo. Com o treinador da seleção, já foi escalada para atuar mais defensivamente também.
Se optar por Luana, Vadão faz uma aposta em alguém menos experiente, mas que pode render defensivamente, como atuou no jogo contra a Austrália, tentando fechar os espaços no meio-campo defensivo do Brasil. Por outro lado, há a opção de usar Andressinha, que já está um pouco mais acostumada a segurar a bronca na seleção principal e pode trazer mais qualidade e inteligência no passe e no apoio ao ataque.
De todas as formas, o cenário que se desenha sem Formiga é sempre complexo, porque a camisa 8 é fora de série e dificilmente terá qualquer substituta à altura. Quem já jogou com ela costuma dizer que a maior injustiça da história do futebol é não ter premiado Formiga como a melhor jogadora do mundo nenhuma vez. Mesmo aos 41 anos, ela exibe a melhor forma física, um fôlego invejável e uma precisão nas roubadas de bola que impressiona.
O Brasil volta a campo na terça-feira, dia 18, às 16h contra a Itália em Valenciennes, precisando vencer para garantir a classificação sem tanto drama.