Existe a Copa do Mundo da FIFA que todas amantes do futebol sonham em jogar, mas, sabemos, poucas conseguem chegar até lá.
Mas também sabemos que não é nessa conquista, do topo do profissionalismo, que reside a nossa relação com a bola e, sim, em toda as experiências que ela nos proporciona.
O esporte é fundamental para a formação das crianças, com lições de senso de equipe, competição, lealdade, humildade e cooperação. E, para nós, brasileiros, não tem maior representante disso do que o futebol jogado em nossas ruas, comunidades, escolas e parques, nesses lugares que a nossa ligação natural e verdadeira acontece com a bola, não só entre o pé e o objeto esférico, mas principalmente das esperanças depositadas, dos sonhos e das realizações que o maior esporte do planeta pode proporcionar a seus discípulos.
E foi toda essa emoção que aconteceu durante a final mundial do torneio Gatorade 5v5, em Madri, durante a semana que antecedeu a final da UEFA Champions League na mesma cidade.
Em sua quarta edição, é a segunda vez que o evento conta com equipes femininas e, de 5 em 2018 pulou para 12 times em 2019. Além do Brasil, representado pelas meninas do Colégio Alvorada/Tiger, Argentina, Canada, Chile, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Honduras, Itália, México, Peru e República Dominicana levaram suas representantes para a Espanha.
A primeira atividade das equipes foi um treino em Las Rozas, sede da Federação Espanhola de Futebol e local de concentração e treinamentos das seleções. Antes de entrar em campo, a primeira surpresa: Luka Modric, atual melhor jogador do mundo, apareceu para dar as boas vindas aos participantes e falar da importância daquele momento: “Quando eu era pequeno não havia um torneio como esse, é incrível a oportunidade que vocês têm de conhecer outro país, outras culturas e jogarem futebol representando seus países, aproveitem e deem o seu melhor”, disse o craque.
O TORNEIO
O torneio feminino foi dividido em dois grupos de seis, o Brasil começou jogando contra o Peru, a equipe brasileira formada por Luiza, Alessandra, Marly, Flávia, Vitória, Giovana não teve dificuldades em vencer: 5 a 0, um jogo tranquilo pra tirar o peso da estreia.
Na segunda partida, comandadas pelo professor Wagnão, as brasileiras começaram perdendo contra o México, mas a virada veio para 4×1, o jogo terminou em 5×2, com destaque para Flávia conduzindo o meio campo brasileiro e Luiza, a goleira, que contribuiu com grandes defesas em lances cruciais da partida.
O terceiro jogo parecia o mais fácil, mas a República Dominicana com um time bem montado, marcação forte e rápida saída de bola deu bastante trabalho ao Brasil, a partida foi disputada até os últimos segundos, em um ritmo intenso, mas não saiu do 0x0.
O último jogo do dia, foi o mais emocionante, talvez de todo o torneio, a equipe de Honduras, já desclassificada, estava com duas atletas lesionadas, como cada time tem apenas uma reserva, não restava outra alternativa a não ser jogar com uma a menos. A equipe brasileira que precisava da vitória para garantir a classificação, entrou em campo com seriedade e respeitando ao máximo as adversárias que bravamente estavam em campo defendendo as cores de seu país. Tocando a bola e jogando de verdade, como os grandes times fazem, a equipe brasileira marcou nove gols no primeiro tempo. No intervalo, Wagnão pediu para voltar com uma a menos e foi atendido pela arbitragem As meninas continuaram jogando seriamente, marcaram mais 10 gols, mas em nenhum momento houve provocações. As hondurenhas bravamente resistiram, em alguns momentos chorando, até o final do jogo.
Ainda durante a partida, Flávia, jogadora do Brasil, disse: Eu queria abraça-las e dizer para que sigam em frente e não desistam, mas não sei como falar em espanhol. Você pode me ajudar? E foi assim, que após o jogo, todas as brasileiras foram abraçar e consolar as adversárias, um momento bonito, o verdadeiro espírito esportivo.
Para a seleção brasileira, o segundo dia de torneio começou com um jogo muito difícil diante do Canadá, uma das favoritas dessa edição e finalista do ano passado. Na determinação, o Brasil garantiu a vitória simples mesmo ficando os dois últimos minutos de jogo com um a menos em campo, por conta de um cartão amarelo.
Primeira-fase encerrada e por todo estádio, ouvia-se: o time feminino do Brasil é uma máquina. Com bons resultados e bons jogos, a equipe estava credenciada para o título.
O primeiro jogo do mata-mata foi contra a Itália, As européias contavam com torcida, tinham um time forte e muito provocador, mas não foi páreo para o futebol bem jogado do Brasil que fez 6 x 0 no placar.
Nas semifinais, o reencontro com as mexicanas. O time entrou em campo para sair dali com a vaga para a final e não deu outra, em mais um jogo que o Brasil terminou com uma a menos, vitória por 3×1.
A FINAL
Além de tornarem-se campeãs mundiais, as equipes vencedoras do torneio ganhariam como prêmio pelo título, ingressos para a final da UEFA Champions League.
Muitos sonhos estavam em campo, às 18h, no Estádio Municipal de Butarque, as adversárias eram as vizinhas sul-americanas da Colômbia, meninas de um país que tem as mesmas dificuldades e desigualdades que o nosso para o futebol feminino.
Logo no início, em uma jogada muito bem trabalhada, um toco y me voy, o time colombiano abriu o placar e o brasil sentiu, aquele gol quebrou a energia da equipe que até então era imparável. A torcida incentivou, o banco agitou, mas o jogo da equipe não encaixava, chances foram criadas, mas nenhuma com perigo e o primeiro tempo acabou com o resultado desfavorável.
No intervalo, o sentimento era um só: é possível, temos 15 minutos e qualidade para virar o jogo! E o Brasil foi pra cima como pôde, tentou todas as jogadas, mudou o esquema tático, abdicou da marcação, mas não conseguiu furar o bloqueio colombiano. Há de se elogiar também, a belíssima partida que fez o adversário, soube jogar com a vantagem no placar, fez uma partida equilibrada, leal e como recompensa, ao final, conseguiu marcar o segundo. Fim de jogo e Colômbia campeã.
A equipe brasileira sofreu a derrota, mas é assim que é o esporte. No final, só um ganha, mas isso não quer dizer que os outros são perdedores.
ENCERRAMENTO
O último compromisso dos atletas, foi a partida entre os melhores jogadores do torneio em um dos principais cartões postais de Madri, a Plaza Mayor, tomada por ativações de patrocinadores da UEFA, estava em completo clima de futebol, além de receber em seus bares centenas de torcedores ingleses fazendo o esquenta para a decisão.
Três brasileiras foram selecionadas para o jogo das estrelas, Flávia, Giovana e Luiza tiveram a oportunidade de se despedirem dos campos espanhóis em grande estilo.
A FINAL DA CHAMPIONS
A coisa mais doida para quem ama futebol é que tudo acontece em torno e por causa de uma bola, é com ela que a gente sonha e ela que realiza os nossos sonhos.
Junto com as equipes vencedores e os influenciadores de outros países, eu, Angélica, também fui à final da Champions League. Eu não vou dizer que sempre esperei por esse momento porque, de verdade, estar em uma partida dessas nunca nem passou pelos meus sonhos, minha imaginação não teria tanta ousadia.
E é aqui que ela vem de novo, a bola, e o amor e tudo que a gente faz ela, nos leva até lugares que nem mesmo poderíamos considerar sonhar e foi justamente o que aconteceu comigo.
No centro turístico de Madri, horas antes da partida, já era possível sentir a tensão e emoção de todos que estavam vivendo aquele grande dia, nos bares e nas ruas, torcedores ingleses cantando e amantes do futebol com os olhos brilhando de poderem participar da festa.
Plaza Mayor respirando a final da UCL. Foto: dibradoras
O jogo todo mundo sabe como foi, mas a experiência de estar no lugar mais assistido do planeta, vendo de perto o que todo mundo está acompanhando sem tirar o olho da televisão é uma das sensações mais incríveis que podemos ter. E não por se sentir melhor que alguém por estar ali, mas sim por se sentir fazendo parte da história do futebol, por participar de verdade, de um espetáculo desse tamanho.
São essas histórias que a gente leva pra vida, eu vou contar que vi de pertinho o Salah marcar de pênalti e levantar a champions league pela primeira vez, que ouvi a mágica We’ll Never Walk Alone dos torcedores do Liverpool e que acompanhei 72 meninas de diversos países, em especial seis brasileiras, jogando um campeonato mundial de futebol em Madri.
Até aqui a bola me trouxe.
E não sei até onde ela pode me levar, mas sei que por ela, ainda vou muito além.
Angélica Souza viajou a Madri convidada pela Gatorade Brasil