Todo mundo se lembra da sua primeira Copa. As primeiras imagens da seleção que vêm à cabeça de qualquer brasileiro são sempre de uma delas. Para os mais velhos, talvez a lembrança inicial seja o ato eternizado por Bellini ao levantar a taça do nosso primeiro título mundial. Ou quem sabe eles carreguem como memória mais marcante a derrota em 1950, o Maracanazo. Garrincha e seus dribles em 1962. A seleção de 1970, inesquecível com goleada na final e o tricampeonato. A comemoração de Bebeto embalando bebê, tão repetida na Copa de 1994. O cabelo igual ao do Cascão feito por Ronaldo, que o consagrou em 2002. O 7 a 1.
Todas essas são histórias que a gente pode até não ter vivido (por ter nascido depois), mas sabemos contar de cor. Construímos a nossa identidade por meio de Copas do Mundo. É como se, na linha do tempo do brasileiro, houvesse marcações de 4 em 4 anos, com as lembranças e lições que ficaram de cada Mundial.
Só que aí chega 2019 e a gente percebe que há uma falha grave em tudo isso. Porque descobrimos que esse é um ano de Copa também, e a gente nem tinha se dado conta. As histórias que conhecemos, os Mundiais dos quais nos lembramos, os gols que comemoramos, são todos deles, da seleção masculina. A gente nunca tinha parado para pensar que existia também uma seleção feminina. E uma Copa do Mundo delas. A gente nunca tinha parado para torcer por elas.
Se nos encantamos com a categoria de Rivaldo para encontrar passes milimétricos deixando os companheiros na cara do gol e batendo falta com uma precisão rara, deveríamos ter conhecido também Sissi, a camisa 10 da primeira seleção brasileira, artilheira da Copa do Mundo de 1999, uma das melhores jogadoras que o mundo já viu.
Celebramos tantas vezes os gols de Romário, mas deveríamos também ter tido a oportunidade de comemorar os de Roseli, jogadora que vestia a 11 dele – literalmente, já que na época a seleção feminina usava o uniforme do tamanho masculino. Uma atacante de habilidade rara e com faro de gol.
Se falamos tanto da longevidade e do fôlego de Cafu, a gente pode aproveitar enquanto é tempo para conhecer Formiga, a incansável meio-campista brasileira que serve a seleção há 24 anos e disputará na França sua sétima Copa do Mundo, um recorde absoluto entre homens e mulheres.
E se reverenciamos tanto os gols de Ronaldo, deveríamos saber que Marta balançou as redes tanto quanto ele em Copas do Mundo – são 15 gols de cada um – e ela pode se tornar a maior artilheira do Mundial entre homens e mulheres se fizer dois gols nesta edição (Klose, seu concorrente, tem 16). E que sua companheira no ataque, Cristiane, é a maior artilheira da história olímpica no futebol e tem mais gols que Zico pela seleção brasileira. Quantos desses você comemorou? De quantos consegue se lembrar?
Todas essas mulheres ouviram ao longo da vida que “estavam no lugar errado”; que “futebol não era para mulher” e que elas deveriam “ir para o tanque ou para a pia”. A resposta que deram veio no campo. Para cada “volta para a cozinha”, um drible desconcertante de Marta; para os tantos “mulher-macho” que repetiam, outros tantos gols da artilheira olímpica, Cristiane; aos que insistem em duvidar, uma lembrança: elas não precisam da sua aprovação.
Elas desafiaram até mesmo a lei que vigorou entre 1941 e 1979 proibindo as mulheres de jogar futebol porque esse era um esporte “incompatível com a sua natureza”. Resistiram nos gramados mesmo sem serem notadas. Se o uniforme era masculino, elas dobravam o short e a camisa e jogavam mesmo assim. Quando criaram um campeonato que proibia cabelo curto e priorizava “beleza” ao talento, elas foram atrás de outro torneio para disputar. E no dia em que contrariaram as expectativas daqueles que sempre as subestimaram e chegaram à final da Copa do Mundo, improvisaram no pódio uma fronha de travesseiro com o recado: Brasil, precisamos de apoio.
Chegou a hora de reconhecer a história que elas construíram também. É ano de Copa e não poderia haver momento melhor para abraçar a seleção feminina como ela merece. Vamos torcer por todas. Pelas que já vestiram essa camisa e as que honrarão esse escudo na França. Por aquelas que jogam futebol por diversão ou assistem ao futebol por paixão. Pelas meninas que já driblam os preconceitos desde muito cedo por preferirem a bola à boneca. E por toda mulher que todos os dias precisa lembrar ao mundo que seu lugar é ela quem vai escolher.
Que 2019 seja um marco para, daqui em diante, construirmos nossas memórias também baseadas nas Copas delas. Que torcer pela seleção, de agora em diante, signifique torcer por TODAS, sem distinção: a masculina, a feminina, e a de base. O movimento começa agora e não pode parar. Eu torço por todas, e você?
Esse manifesto é um convite para refletir: se o Brasil é o país do futebol, se a gente ama Copa, por que não estamos dando tanta atenção para o Mundial delas? Chegou a hora de dar às mulheres do futebol o protagonismo que elas merecem. Por isso, o Itaú convoca os brasileiros a torcer por todas. Faça parte do movimento com a #EuTorçoPorTodas.
*Esse post foi criado em uma parceria com o Itaú