Muito tem se falado do Santos de Sampaoli em 2019. O técnico argentino chegou no início do ano e transformou a equipe da Vila Belmiro, mesmo sem tantos nomes de peso entre os reforços – e mesmo perdendo seus dois principais atacantes para o Flamengo nesta temporada (Gabriel e Bruno Henirque). É o time que “joga bonito”, que encanta a torcida e que, hoje, após a quarta rodada, lidera o Campeonato Brasileiro ao lado do Palmeiras.
Mas tem outro Santos encantando na principal competição do país e que não recebe tantos holofotes quanto o de Sampaoli. As chamadas “Sereias da Vila” fazem uma temporada impecável no Campeonato Brasileiro de futebol feminino (Série A1, a primeira divisão) com números que impressionam.
Se o time comandado por Sampaoli tem três vitórias e um empate em quatro jogos, com sete gols pró e dois gols contra, as mulheres comandadas pela técnica Emily Lima somaram oito vitórias em oito jogos, com 25 gols marcados e só dois gols tomados.
Aí pode vir gente dizer que o “futebol feminino é muito desnivelado”, por isso é mais fácil conseguir esses resultados. Sim e não. Porque se a gente olhar o futebol masculino, também há uma diferença abissal de orçamento entre o Santos e o CSA, por exemplo, mas esse jogo acabou empatado em 0 a 0. Entre as mulheres, as Sereias já enfrentaram alguns dos principais times do torneio, candidatos ao título – e de orçamento similar ou superior -, como o atual campeão brasileiro, Corinthians, e o até então também invicto no campeonato Flamengo – este, inclusive, foi o jogo do último sábado, em que o time carioca saiu na frente aos 5 minutos de jogo, e o Santos virou a partida vencendo por 2 a 1, derrubando assim o penúltimo invicto para manter a sua própria invencibilidade.
Dos quatro adversários que vêm logo abaixo da equipe santista na tabela, o time de Emily Lima já enfrentou três e venceu todos: 2 a 1 em cima do Corinthians (2º colocado) fora de casa, 2 a 0 em cima do Kindermann (5º colocado) também fora de casa, e 2 a 1 sobre o Flamengo (3º colocado) no Pacaembu. O próximo jogo será justamente contra o Internacional, 4º lugar da tabela, jogando em casa e com transmissão da Band, no próximo domingo, às 14h.
“Não tem segredo, acho que é trabalho. Quem estiver do meu lado sabe que eu estresso com o trabalho. Mas o trabalho sempre vem com esses resultados. Acredito muito no trabalho e vou continuar acreditando. Isso é fruto de um planejamento que nós fizemos em um ano dentro do Santos, nós modificamos algumas coisas, a gente reduziu o elenco, conseguimos planejar um pouco melhor o ano e os resultados são consequência”, afirmou às dibradoras Emily Lima, a comandante das Sereias.
“Neste ano a gente colocou como meta o Campeonato Brasileiro, a gente precisa colocar novamente o Santos na Libertadores. Indepentendemente se eu vou estar lá ou não, a gente precisa deixar o Santos melhor do que nós encontramos. Isso é o que eu e toda minha comissão técnica pensamos e as atletas já acreditam nisso. Elas abraçaram a causa. A gente está aqui para instruir, para dar os toques, mas elas sabem fazer as coisas. A gente direciona e elas fazem as coisas acontecer aqui dentro.”
Estilo de jogo
O interessante é notar que o Santos de Sampaoli e o Santos de Emily Lima não têm em comum somente o fato de estarem vencendo as partidas. Os dois treinadores têm um estilo de jogo parecido, de toque de bola da defesa até o ataque (são raros os “chutões” dos goleiros), com passes curtos e eficientes, muita criação e grande ofensividade. E chama a atenção a posse de bola: contra o Flamengo, no sábado, as Sereias ficaram com ela em 60% do tempo. O destaque do time vai para Gláucia, artilheira com 8 gols e líder de assistências, com 9.
“Isso é também resultado de um trabalho que elas começaram a acreditar também no ano passado. O que era jogar. Tem meninas que me relataram que ‘agora estão jogando’. Por exemplo, as zagueiras disseram pra mim: ‘agora eu estou jogando com a bola’. Isso é interessante, fazer com que isso se desenvolva. Quer dizer que isso é certo ou errado? Não, é o modo que a gente hoje no Santos gosta de jogar, pode ser que de outra forma dê certo também, mas eu e a comissão, a gente acredita que com a qualidade técnica que a nossa equipe tem, vale tentar isso”, disse a técnica.
“É muito passe, é ficar com a bola, mas não é ficar com a bola por ficar, às vezes em uma transição eu não preciso ficar com a bola, eu posso fazer 1, 2, 3 passes e chegar ao gol para finalizar. Tem certos momentos, momento de organização ofensiva, ficar com a bola, momento de transição, buscar o ataque rápido, então são coisas que elas foram entendendo. E hoje elas têm muito claro na cabeça delas, em setores do campo elas sabem o que fazer. A virada (contra o Flamengo) foram elas que tiveram a consciência, a maturidade, a calma de ficar com a bola que a gente vai criar e chegar no gol do adversário”.
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Apesar de terem muitas semelhanças no modo de trabalho, Emily e Sampaoli têm pouco contato no dia a dia do Santos. Pelo distanciamento que o futebol profissional masculino acaba tendo da base e do feminino, fica difícil possibilitar essa troca de experiências entre os treinadores. Mas a técnica admite que é uma admiradora do trabalho do argentino.
“Até gostaria de ter mais contato com ele. Mas ainda existe uma distância muito grande. Não só com o feminino. Mas entre base e profissional. Isso é algo que é cultural. Acho que eles poderiam criar coisas ali dentro para que todos os treinadores tivessem esse contato para o crescimento do clube. Mas a gente tenta buscar de outra forma o conhecimento que o cara tem, ele propõe o jogo, sim, mas tem o momento certo de fazer as coisas, eles conseguem ter essa leitura. O jogo contra o Grêmio (1ª rodada do Brasileiro) pra mim é um jogo espetacular, ele propõe o jogo, mas no momento que ele tem que ser reativo, ele é reativo e mata o jogo. É isso que a gente tem que aprender e estudar olhando os jogos”, pontuou.
O Santos é líder absoluto do Brasileiro feminino com 24 pontos e, no Paulista, está em segundo do grupo, atrás do Corinthians. Os dois times, aliás, se enfrentam no meio de semana pelo estadual, quarta-feira, às 15h no Pacaembu.
RAIO-X DO SANTOS DE EMILY LIMA
- Média de posse de bola por jogo: 63%
- Média de Finalizações por jogo: 20
- Média de passes dados por jogo: 530