Uma Copa do Mundo histórica se aproxima. Em 7 de junho, daqui exatamente um mês, França e Coreia do Sul darão o pontapé inicial no Parc des Princes em Paris em um torneio que promete quebrar recordes e quem sabe até mudar a história do futebol feminino. Nunca se falou tanto sobre um Mundial delas. Nunca se comprou tanto ingresso. E nunca houve tantos veículos de imprensa interessados na cobertura de um evento como esse.
No Brasil, pela primeira vez, haverá transmissão de todos os jogos da seleção brasileira na maior emissora do país, a Rede Globo. Mas mais do que isso, pela primeira vez está se falando sobre o evento antes mesmo de ele acontecer. Na Copa de 2015, houve alguns jogos transmitidos pela Bandeirantes e pelo SporTV, mas quase nada se falava ao longo da programação sobre o Mundial feminino – assim, as pessoas não tinham nem como saber que ele estava acontecendo.
+2019 é ano de Copa: recordes e curiosidades do Mundial de futebol feminino
Na Inglaterra, nunca tantos veículos buscaram credenciamento para uma Copa do Mundo de futebol feminino. O jornal “The Guardian” sentenciou em janeiro que esse seria “o maior evento esportivo do ano” e a BBC fará uma cobertura completa em rádio, TV e internet, com direito a tempo real dos jogos, algo que raramente era feito em partidas com mulheres em campo.
A França, então, está respirando a Copa feminina na expectativa de que sua seleção possa ser campeã no ano seguinte ao título da seleção masculina. Na semana passada, a convocação das 23 jogadoras que estarão no Mundial movimentou a mídia francesa e foi capa dos principais jornais.
Nível do jogo
Mas acima de tudo, o que garante que esse Mundial será histórico é principalmente a evolução do jogo. O cenário do futebol feminino tem mudado muito rápido, de acordo com o aumento do investimento que os países tem feito. Se antes, Estados Unidos e Alemanha dominavam a modalidade com folga, hoje o nível de competitividade aumentou demais. O próprio ranking da Fifa de futebol feminino reflete isso. Em 2015, às vésperas da Copa, 168 pontos separavam o primeiro colocado (Alemanha) do quinto (Suécia). Hoje, são menos de 100 pontos separando Estados Unidos (primeiro lugar) de Canadá (quinto lugar).
A própria ordem dos países alterou bastante nos últimos anos. Os dois primeiros lugares seguem com Estados Unidos e Alemanha, eles só trocaram de posição nos últimos quatro anos. Mas houve um crescimento exponencial da Austrália, por exemplo, que pulou da 10ª colocação para a sexta, e da Inglaterra, que foi de 6º para 3º. Enquanto isso, o Brasil foi quem ficou para trás, deixando o sétimo lugar para figurar em décimo agora.
Investimento
Em termos de investimento no futebol local, talvez a Inglaterra seja o país que tenha dado o maior salto de lá para cá. A liga local tinha apenas 8 times até 2014, hoje já tem duas divisões, cada uma com onze equipes cada. Além disso, os principais clubes de camisa do país já investem no futebol feminino, mesmo sem qualquer obrigatoriedade: Arsenal, Liverpool, Chelsea, Manchester City, Manchester United, todos têm investido bem na estrutura para as mulheres jogarem. Para coroar tudo isso, a principal competição nacional (Women’s Super League) foi profissionalizada na última temporada e conseguiu um patrocínio milionário neste ano, com o banco Barclays, o que deve elevar ainda mais o patamar do futebol feminino na Inglaterra.
A Espanha é outro país que tem crescido muito na modalidade graças ao investimento que tem sido feito por parte da federação e dos clubes. Os maiores recordes de públicos registrados recentemente no futebol feminino vieram de clubes espanhóis, com o Atlético de Madri levando mais de 60 mil pessoas ao estádio, e o Athletic Bilbao com quase 50 mil pessoas na arquibancada. Os resultados também têm vindo dentro de campo. Neste ano, pela primeira vez um clube do país chegou à final da Champions League, com o Barcelona carimbando a passagem para Budapeste, onde disputará a final contra o poderoso Lyon em 18 de maio.
Nesse meio tempo, a Austrália também profissionalizou o futebol feminino, estipulou um valor mínimo de salário a ser pago para as jogadoras que atuam na principal competição do país (10 mil dólares australianos por mês) e houve um acordo histórico também que garantiu a transmissão dos jogos em rede nacional. Não à toa, a seleção do país já subiu tanto no ranking e vem fazendo frente às principais seleções do mundo – e virou uma pedra no sapato do Brasil, por exemplo, que não conseguiu sequer um empate com as australianas nos últimos dois amistosos.
Na América do Sul, destaque para o Chile que conseguiu classificação inédita para a Copa do Mundo. Na despedida da seleção chilena antes da viagem para a França, o último amistoso diante da Colômbia será realizado no Estádio Nacional de Santiago em 19 de maio com direito a entrada gratuita para os torcedores. A ideia é que a torcida abrace o futebol feminino e apoie a seleção que jogará pela primeira vez um Mundial. A Argentina também recentemente profissionalizou seu futebol e agora vai disputar uma Copa após 15 anos fora.
Ingressos
Os números de venda de ingresso já mostram o potencial dessa Copa do Mundo. Em menos de 48 horas da abertura da venda, já havia pelo menos quatro jogos esgotados: a abertura, as duas semifinais e a final. Em 18 de abril, a Fifa anunciou que tinham sido vendidos mais de 720 mil ingressos, um número recorde pensando essa mesma fase de vendas no Mundial do Canadá.
Não dá para dizer que esse Mundial na França quebrará o recorde de público no estádio para o futebol feminino, porque em 1999, os Estados Unidos fizeram a final em casa no estádio Rose Bowl e colocaram mais de 90 mil pessoas na arquibancada. O maior estádio da Copa deste ano, que é o da final em Lyon, tem capacidade máxima de 59.186. Mas é bem possível que a média de público consiga superar a maior da história até agora, que foi a do Mundial do Canadá, com 26.029 pessoas por jogo. Naquele ano, mais de 1,3 milhão de torcedores acompanharam a Copa do Mundo feminina in loco.
O interesse mundial das pessoas pelo futebol feminino aumentou nos últimos anos, como mostra a pesquisa encomendada pela Nielsen em 2018 chamada “O crescimento do esporte feminino”. No estudo, 43% dos fãs de futebol entrevistados disseram se interessar também pelos jogos das mulheres. Isso representaria uma base de fãs em potencial de 105 milhões de pessoas.
Diante disso, a expectativa é que se quebre também o recorde de pessoas assistindo aos jogos da Copa feminina. Em 2015, foram mais de 750 milhões de pessoas. Agora, a meta traçada pela Fifa chega a 1 bilhão de espectadores.
No Brasil, algumas empresas até adotaram estratégias semelhantes à da Copa masculina, para liberar os funcionários nos horários de jogos da seleção feminina e incentivar que eles acompanhem também o Mundial delas.
Daqui até 7 de junho, a única certeza é que a espera valerá a pena. A Copa do Mundo da França já é histórica.