Rose Volante é a primeira brasileira campeã mundial de boxe pelo Conselho Mundial de Boxe (WBO) e na madrugada desta sexta-feira para sábado (16/3), ela entra no ringue para enfrentar o maior desafio de sua carreira.
O confronto com Katie Taylor valerá por três cinturões da categoria peso-leve, já que a irlandesa – primeira campeã olímpica de boxe nos Jogos de Londres em 2012 – é detentora dos cinturões da Federação Internacional e Associação Mundial de Boxe.
Ou seja, juntamente com a conquista de Rose, o embate que vai acontecer no Liacouras Center, na Filadélfia, coloca em disputa três títulos mundiais.
“Será a minha primeira vez na Filadélfia. É um lugar especial por toda história com o boxe e agradeço a Katie por ser uma campeã, o que fez com que eu treinasse muito mais para essa luta. Estou disposta a voltar para casa com os cinturões”, declarou a brasileira.
Rose é paulista, tem 36 anos e passou a treinar o esporte há 10 anos. Para conquistar o título de campeã do mundo – assim como fizeram Éder Jofre, Miguel de Oliveira, Sertão e Popó – a boxeadora precisou diversas barreiras e preconceitos, mas também a sua própria condição física.
A trajetória
Rose gostava de acompanhar lutas de boxe pela televisão ao lado de sua mãe, mas não tinha ligação nenhuma com o esporte. Ela cursava Direito, trabalhava em um banco e tinha uma vida totalmente sedentária. Chegou a pesar 105kg e viu no esporte um bom caminho para perder peso.
Aliou o boxe com a corrida e depois de um ano tinha eliminado 40kg. Por conta disso, surgiu a vontade de competir e somente aos 26 anos, começou sua trajetória no esporte. Foi participando de uma Virada Esportiva – evento organizado pela prefeitura da capital – que viu sua vida mudar.
Rose competiu e venceu o torneio de boxe por nocaute e depois disso decidiu procurar uma equipe de competição. Passou a trainar na academia Gracie Butantã e como atleta amadora foi campeã paulista quatro vezes, brasileira três vezes e quatro vezes campeã dos Jogos Abertos no interior paulista. Foi convocada para a Seleção Brasileira de Boxe e campeã sul-americana no Chile, em 2011.
Em 2012, Rose conquistou medalha de prata no Pan-americano de boxe no Canadá e, no mesmo ano, foi reserva da Seleção Brasileira nas Olimpíadas de Londres. Em 2013 tornou-se campeã europeia.
Mas foi em 2014, aos 31 anos, que decidiu entrar para o boxe profissional e, nessa trajetória, Rose foi campeã paulista, bicampeã internacional, bicampeã latina e campeã mundial dos pesos-leves pela OMB (Organização Mundial de Boxe), uma das quatro principais entidades gestoras do boxe profissional.
Na disputa que valia o título mundial pelo cinturão peso-leve (até 61kg), Rose venceu a luta contra a argentina Brenda Carabajal em dezembro de 2017, em Jujuy. Em 2018, ela terminou no topo dos rankings da WBC (Conselho Mundial de Boxe) e WBO (Organização Mundial de Boxe).
Como profissional, a brasileira tem em seu cartel 14 vitórias em 14 lutas, sendo oito delas por nocaute, e já defendeu o cinturão por duas vezes. Já a irlandesa, sua adversária neste final de semana, acumula 12 vitórias no seu cartel profissional (cinco nocautes).
A proibição
O decreto lei número 3.199 de 14 de abril de 1941 dizia: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.”.
Em 1965, a Deliberação nº 7 do Conselho Nacional de Desportos regulamentou a atividade esportiva por mulheres, mas proibiu a “prática de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo-aquático, pólo, rugby, halterofilismo e baseball.”
A proibição só deixou de existir após muita luta e resistência delas em 1979, mas a participação das mulheres no pugilismo passou a ser reconhecida recentemente, com a realização do primeiro Campeonato Mundial Amador, em 2001, e do primeiro Campeonato Brasileiro de Boxe Feminino, em 2002.*
As primeiras mulheres a se destacarem no boxe foram Adriana Salles, primeira campeã brasileira em 2005 e Duda Yankovich – nascida na Sérvia e naturalizada brasileira -, e campeã mundial em 2006 pela WIBA (Women’s International Boxing Association).
Há apenas sete anos, a modalidade estreou em Jogos Olímpicos. Foi em Londres, em 2012, que aconteceu a primeira disputa feminina da modalidade, que na época, reuniu 36 lutadoras em três categorias: mosca, leve e meio-pesado. E o Brasil disputou as três categorias disponíveis com Erica Matos (até 51 kg), Adriana Araújo (até 60 kg) e Roseli Feitosa (até 75 kg). A primeira medalha feminina do país em uma Olimpíada veio com o bronze de Adriana Araujo.
Recentemente, uma das grandes conquistas foi a inclusão do boxe feminino no Forja dos Campeões, evento que acontece desde 1941 e é uma das competições mais tradicionais para os pugilistas amadores do Brasil.
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A primeira vez delas no Forja aconteceu em janeiro deste ano, na 78ª edição, em evento realizado no Clube Pinheiros em São Paulo. Dos 180 inscritos, 30 eram mulheres e Rose Volante foi homenageada pela Federação Paulista de Boxe (FPF) que batizou o troféu de melhor esportista do “Forja Pra Elas” (campeonato feminino) com o seu nome.
Agora, Rose Volante tem a chance de se tornar a Rainha – já que é conhecida como The Queen – dos pesos-leves e abocanhar três títulos em uma só noite. Esperamos que a Filadélfia, terra de Rocky Balboa, a inspire.
A luta terá transmissão do SporTV, que vai iniciar a transmissão a partir das 21 horas de sexta-feira (15/3).
* Fonte: Mulheres no universo cultural do boxe – As questões de gênero que atravessam a inserção e a permanência de atletas no Pugilismo (2003-2016). Isabela Lisboa Berté