Nesta sexta-feira (24) chegou ao fim o Mundial Sub-20 de Futebol Feminino e o Japão é mais novo campeão da modalidade. O título inédito foi conquistado após a “Young Nadeshiko” derrotar a seleção espanhola por 3×1, na França.
Essa competição marcou uma nova hegemonia no futebol feminino. As quatro seleções que chegaram nas fases finais – Inglaterra, França, Espanha e Japão – desbancaram antigas favoritas, como Estados Unidos, Alemanha e Coréia do Norte, e vão se consolidando a longo prazo na modalidade graças ao crescente trabalho de base que desempenham em seus países.
A FINAL
No primeiro tempo da partida, a seleção espanhola impôs pressão total da e avançava com facilidade pela ponta-direita com Eva Navarro, com chutes de Patri Guijarro e bom posicionamento nas bolas aéreas. Criou boas chances, mas não conseguiu abrir o placar.
As chegadas do Japão foram se intensificando até que a camisa 9, Miyazawa, acertou um belo chute de fora da área, encobrindo a goleira Cata, aos 27 minutos do primeiro tempo.
No segundo tempo, a seleção japonesa comandada por Ikeda Futoshi, voltou muito melhor. Com o posicionamento bem acertado, a Espanha não conseguiu mais se encontrar na partida. O Japão marcou a saída de bola das adversárias e protegeu muito bem o meio de campo, sem dar espaço para os avanços da equipe espanhola.
Com o time acertado, mais dois gols vieram. O segundo da partida foi marcado aos 10 minutos por Takarada após falha do meio-campo da Espanha e o terceiro saiu dez minutos depois pelos pés da camisa 10, Nagano, em um chute bem colocado.
A Espanha ainda tentou encostar no placar e diminuiu a diferença com Candela, aos 20 do segundo tempo. Minutos depois, Pina ainda carimbou a trave japonesa, mas foi só.
A equipe japonesa sagrou-se campeã com muita tranquilidade, após pressão sofrida no primeiro tempo. A Young Nadeshiko voltou totalmente organizada, impôs seu jogo, pressionou a Espanha e aproveitou as chances criadas.
O título japonês no Mundial Sub-20 em 2018 vem para completar o hall de conquistas da seleção asiática que já foi campeã mundial com a sub-17 em 2014 e com a seleção principal em 2011. É o único país a conquistar títulos nas três categorias do futebol feminino.
Velhas conhecidas
As finalistas já haviam se cruzado neste torneio pela fase de grupos. Ambas estavam na mesma chave e a primeira vitória foi da seleção espanhola, por 1×0 com um gol de Carmen Menayo. Mas o confronto entre Japão e Espanha tem história nos mundiais de base.
No sub-20 de 2016, disputado em Papua-Nova Guiné, as duas seleções também se encontraram na primeira fase e o triunfo foi espanhol, mais uma vez.
Mas, em 2014, na Copa do Mundo Sub-17 disputada na Costa, a vitória japonesa sobre a Espanha veio em um confronto final, batendo as rivais por 2×0.
Oito jogadoras são remanescentes deste campeonato sub-17 que acabou com o título nas mãos do Japão: cinco japonesas e três espanholas se encontraram de novo em campo nesta sexta-feira (24)
Na disputa pelo terceiro lugar o título ficou com a Inglaterra que venceu a França, dona da casa, nos pênaltis por 4×2.
Congratulations @Lionesses, this is for you!
They finish 3rd at the 2018 FIFA #U20WWC. pic.twitter.com/vsXTpkLZqE— #U20WWC ⛵ (@FIFAWWC) August 24, 2018
Mas o que explica a participação dessas quatro equipes no quadrangular final desbancando os já campeões Estados Unidos, Alemanha e Coréia do Norte?
Trabalho de base bem feito e campeonatos locais consolidados são os principais motivos que credenciam a evolução das seleções a seguir:
ESPANHA
️EMOCIONANTES palabras de Pedro López, seleccionador de la @SeFutbolFem Sub-20, a sus jugadoras: “Gracias a todas vosotras, España se ha levantado hoy con una sonrisa”.
➡️”No se me pasa por la cabeza otra cosa que no sea levantar esa copa, la de CAMPEONAS DEL MUNDO” pic.twitter.com/Us3WSjUDfQ
— Selección Española Femenina de Fútbol (@SeFutbolFem) August 21, 2018
Finalista pela primeira vez do Mundial Sub-20, a seleção espanhola é comandada pelo treinador Pedro Lopez e este, com certeza é um momento muito especial para a equipe La Roja.
Com o apoio da torcida, da imprensa e até de Pedro Sanchez, presidente do governo espanhol que acompanhou pessoalmente a final do Mundial Sub-20, a Espanha começa a aparecer no cenário do futebol feminino com muita força.
A seleção já fez história ao conquistar há poucos meses o bicampeonato da Eurocopa na categoria sub-19, chegando a cinco finais consecutivas. Além desta conquista, o sub-17 também foi campeão da mesma Eurocopa, coroando o trabalho de base da equipe espanhola que conquistou o título das duas categorias no mesmo ano.
O reflexo disso apareceu na sub-20 que foi finalista na França com uma campanha de respeito. Venceram o Paraguai por 4×1 e o Japão por 1×0 e empataram com os Estados Unidos em 1×1. Na fase eliminatória da competição, despacharam a Nigéria por 2×1 e a França, dona da casa, por 1xo.
O grande destaque do time espanhol foi Patri Guijarro, meio-campista de 20 anos. Os números mostram o quanto a camisa 8 foi necessária para a equipe: dos dez gols marcados pela seleção espanhola, Patri contribuiu em nove deles, guardou seis vezes e deu três assistências para as companheiras.
Patri recebeu a chuteira de ouro pela artilharia no Mundial Sub-20 e a bola de ouro, eleita como a melhor jogadora do campeonato.
Patri é destaque do time feminino do Barcelona e também foi artilheira da Euro sub-19, marcando cinco gols. Olho nela que já subiu de categoria e está convocada para disputar os amistosos contra a Finlândia e Sérvia pela seleção principal.
Mesmo derrotada na final, a equipe espanhola terá recepção da RFEF (Real Federação Espanhola de Futebol) no desembarque da equipe em Madrid, neste sábado (25). O presidente da entidade, Luis Rubiales, faz questão de parabenizar a seleção pela campanha realizada na França e o encontro poderá ser assistido ao vivo pelo site: www.sefutbol.com
JAPÃO
A seleção já é conhecida e respeitada no cenário do futebol feminino. Já foi campeã mundial com a seleção principal em 2011 e em 2014 com a sub-17, quando derrotou a própria Espanha por 2×0. Cinco jogadoras campeãs do sub-17 fizeram parte do time japonês neste Mundial sub-20.
O título de hoje chega para compor a prateleira de troféus do país de maneira inédita.
A campanha japonesa nesta competição contou com duas vitórias na fase de grupos (1×0 contra os Estados Unidos e 6×0 contra o Paraguai) e uma derrota para a equipe espanhola por 1×0. Na fase eliminatória a “Young Nadeshiko” (como é conhecido time japonês) despachou a Alemanha por 3×1 e a Inglaterra por 2×0.
O destaque da seleção é a atacante Riko Ueki. Com 19 anos e vestindo a camisa com o mesmo número, a jogadora que defende o Tokio Verdy terminou a competição com cinco gols marcados, dividindo a artilharia da equipe com Saori Takarada – que levou a chuteira de bronze e a bola de prata do Mundial.
Vale destacar que a Nadeshiko League – o campeonato principal da categoria – existe desde 1989, ou seja, fará 30 anos em 2019. Depois da conquista da Copa do Mundo em 2011, o futebol feminino cresceu muito no Japão.
A liga amadora conta com três divisões e 32 clubes e o próximo passo é a profissionalização da modalidade. A proposta apresentada recentemente pela JFA (Associação Japonesa de Futebol) visa implantar o projeto após os Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio.
A Federação quer mobilizar patrocinadores, empresas, atletas e o público para consolidar de vez o futebol feminino como parte da cultura do país.
FRANÇA
A seleção francesa é conhecida como “Les Bleuettes” e sua melhor campanha no Mundial Sub-20 aconteceu em 2016, na Papua-Nova Guiné. A equipe foi vice-campeã do torneio ao perder o título para a Coréia do Norte por 3×1.
Nesta edição, a seleção feminina da França que jogava em casa fez uma campanha muito boa, goleando Gana (4×1) e Holanda (4×0) na fase de grupos. Empatou sem gols com a Nova Zelândia e avançou para as quartas-de-final vencendo a Coréia do Norte por 1×0.
Se despediram do torneio após derrota para a Espanha na semifinal por 1×0 e terminaram em quarto lugar após derrota nos pênaltis, por 4×2, para a Inglaterra.
O campeonato feminino de futebol francês é um dos mais fortes do mundo. A Liga existe desde 1974 e o Lyon é o clube com mais destaque no cenário do país. Já venceu por 16 vezes o campeonato francês e cinco vezes a Uefa Women’s Champions League – sendo o atual tri-campeão do torneio.
INGLATERRA
A “Young Lionesses” participou cinco vezes do Mundial Sub-20. Nesta edição, as inglesas derrotaram a Coréia do Norte por 3×1, empataram com o Brasil por 1×1 e golearam o México por 6×1. Nas quartas, venceram a Holanda por 2×1 e acabaram eliminadas pelo Japão, por 2×0, na semifinal.
Após empate por 1×1 no tempo regulamentar, as inglesas superaram as francesas em cobranças de pênaltis e garantiram o terceiro lugar na competição.
A treinadora da equipe é Mo Marley, uma ex-jogadora que defendeu a seleção inglesa como zagueira entre 1995 e 2001. Após se aposentar dos gramados, Marley começou a treinar as equipes de base do país e comandou o Everton Ladies – ao mesmo tempo – até 2012. Dado curioso: Mo Marley chega ao Everton em 2002, tirando seu marido do posto de treinador e conquista a FA Women’s Premiere League Cup (2007/2008) e a FA Women’s Cup em 2009/2010.
Marley tornou-se apenas a segunda mulher na Inglaterra, depois de Hope Powell, a receber a Licença Pro da UEFA. Ela completou o curso em 2007-08.
Em 2017 chegou-se a cogitar seu nome para assumir a seleção principal da Inglaterra depois da saída de Mark Sampson (que esteve envolvido em denúncias de racismo e sexismo), mas a FA optou por Phil Neville.
O campeonato inglês de futebol feminino também é uma potência da modalidade. As principais equipes do país contam com times femininos em seu departamento de futebol. É o caso de Manchester City, Chelsea, Arsenal, Liverpool e mais recentemente o Manchester United. que irá disputar a segunda divisão do campeonato inglês ao lado de outras equipes como Aston Villa, Leicester City, Tottenham Hotspur, entre outros.
Na última Champions League, pela primeira vez dois times ingleses chegaram às semifinais – Chelsea e Manchester City.