Por Renata Mendonça, de Kiev.
Créditos fotográficos: Twitter Oficial / UEFA Women’s CL e ~dibradoras
De um lado, o poderoso Lyon, atual bicampeão da Champions League e o maior vencedor do torneio com quatro títulos ao lado do Franfurt. Do outro, o Wolfsburg, campeão em 2013 e em 2014, inclusive vencendo o próprio Lyon em uma final, e disposto a voltar ao topo da Europa.
O equilíbrio entre as duas equipes ficou claro já nos primeiros minutos de jogo, com os dois times partindo para o ataque. O Lyon, que gosta de jogar ocupando todos os espaços do campo e tentando abrir buracos na defesa adversária, adotou essa estratégia durante os 90 minutos, mas parou na defesa muito bem postada do Wolfsburg.
Le Sommer e Ada Hegerberg tiveram as principais chances da partida para a equipe francesa, com o Wolfsburg chegando bem só nos contra-ataques rápidos – que só não acabaram em gol por conta do timing preciso das zagueiras do Lyon na hora de bloquear as finalizações.
Mas o jogo pegou fogo de vez mesmo quando começou a prorrogação. Aos 3 minutos, Pernille Harder acertou um chute meio rasteiro de fora da área que desviou e enganou a goleira, abrindo o placar para o Wolfsburg.
Três minutos depois, a atacante Alex Popp do Wolfsburg levou o segundo amarelo, foi expulsa e, a partir daí, o jogo começou a mudar para o Lyon. O empate veio dois minutos depois, em uma excelente jogada de Amandine Henry pela direita. E não precisou sequer de mais um minuto para as francesas virarem o jogo com Le Sommer, em mais uma jogada pela direita que teve o cruzamento para ela aparecer no lugar certo, na hora certa e empurrar para as redes: 2 a 1 e um tricampeonato consecutivo próximo.
Ainda aos 13 minutos do primeiro tempo da prorrogação, foi a vez de Ada Hegerbeg deixar o dela, o 15º gol marcado pela artilheira de apenas 22 anos em 8 jogos nesta Champions League.
O Lyon não parou e ampliou o placar. Fez 4 a 1 no segundo tempo da prorrogação com Camille Abily e mostrou por que reina absoluto na Europa com tamanha qualidade. É impressionante como o time não se abala e mantém a frieza mesmo quando está atrás no placar. Parece até que as jogadoras já “sabem” que a virada vai acontecer.
É verdade que a equipe francesa só deslanchou mesmo após o Wolfsburg ter ficado com uma a menos, mas ainda assim a resposta foi simplesmente imediata – e fulminante.
Merecidamente, o Lyon garantiu o tricampeonato consecutivo da Champions League e já é penta em toda a história. Ninguém tem mais títulos europeus do que a equipe francesa, uma hegemonia que está difícil de ser derrubada.
Estádio cheio
A Ucrânia não é exatamente um país tradicional no futebol feminino. A seleção do país nunca disputou uma Copa do Mundo e apenas esteve em uma Eurocopa em 2009. Diante desse cenário, confesso que não tinha grandes expectativas sobre o público da final desta Champions League feminina.
Chegamos bem cedo ao estádio, faltando mais de três horas para a partida começar e a movimentação ao redor era pouca. Mas quando faltava cerca de 1h para o apito inicial, a praça onde fica o estádio Valeriy Lobanovskyi começou a ficar tomada por torcedores – e, principalmente, por torcedoras.
Vimos dezenas de meninas adolescentes com a camisa amarela ucraniana e, com a pouca comunicação que conseguimos estabelecer com elas, soubemos que eram aspirantes a jogadoras. Jovens de 12 anos de idade que jogam em Kiev sonhando em, quem sabe um dia, serem as mulheres que entrariam em campo nesta final de Champions League.
Foi interessante notar também o público diverso da partida. Muitas famílias, pais, mães com seus filhos e filhas pequenos marcando presença nas arquibancadas. Mulheres, homens, crianças e idosos, todos juntos para prestigiar o futebol feminino. Ficava até difícil identificar quem era a maioria e, até mesmo nos gritos da torcida, muitas vezes sobressaíam as vozes dos pequenos torcedores empolgados com a chance de ver um jogo desses bem de perto.
O ingresso a um preço bem acessível (menos de 3 euros eram suficientes para garantir um lugar na arquibancada) atraiu muitos ucranianos, que encheram o estádio para ver o jogo equilibrado entre Lyon e Wolfsburg. O público chegou a pouco mais de 14,2 mil pessoas – quase a lotação máxima, que é de 16 mil.
A final do ano que vem terá algumas mudanças, incluindo o fato de não ser na mesma cidade-sede da masculina. A UEFA afirma que quer garantir o foco total na competição feminina em vez de fazê-la dividir as atenções com a masculina.
“O potencial do futebol feminino não tem limites nesse momento e por isso nós decidimos separar os dois eventos. Isso vai dar uma plataforma única para a competição delas, para continuar a crescer e para se tornar um evento imperdível tanto no estádio quanto na TV”, disse o presidente da Uefa, Aleksander Čeferin.
“Nós vimos como o futebol feminino se popularizou na Eurocopa, tanto pelo aumento do público nos estádios, quanto pelo aumento da audiência de televisão. Nós estamos trabalhando para maximizar o potencial do futebol feminino no mercado”, finalizou.
A UEFA definiu a sede da final feminina da Champions League do ano que vem para Budapeste, na Hungria, enquanto a masculina acontecerá em Madri, na Espanha.
O legal da Champions feminina não ter todo o glamour da masculina é essa proximidade com o público. Coisa linda de se ver Ada Hegerberg tietado pela torcida pic.twitter.com/RDxP2kOOv6
— dibradoras (@dibradoras) 24 de maio de 2018
Renata Mendonça foi enviada para Kiev a convite da Lay’s.