Faz uma semana e foi a primeira vez que fui assistir a um jogo do Palmeiras fora do Brasil e já adianto FOI DEMAIS.
Eu sou alucinada pelo Palmeiras e quando realizei que ia ter a partida contra o Boca em Buenos Aires e que a Argentina é logo ali, a tentação de ir ao jogo veio bem forte. Muita gente dizendo que ia – e eu, por coincidência, de férias, não tive como resistir. Tinha que viver essa aventura.
Depois de tudo fechado, passagem, hospedagem, etc, teve o drama dos ingressos. Acabaram em 1h, em uma venda bastante mal informada e esquisita por parte do clube. Para terem uma ideia, os ingressos foram vendidos uma semana antes do jogo, dia 18/04, no estádio. O Palmeiras informou o torcedor que isso aconteceria às 20 horas do dia anterior com uma nota no site. Aí foi aquilo que acontecia nos anos 90, lembram? Gente dormindo na fila, filas gigantes e de repente acabou, muita gente ficou sem ingresso. Eu tive que recorrer a um amigo que conseguiu comprar dentro do clube. Um alívio.
Com o ingresso na mão, pude ir tranquila para a viagem. Fui dois dias antes do jogo e no meu voo já tinham diversos palmeirenses, todos fardados e felizes. Chegando por lá, foi incrível ver quantas pessoas fizeram o mesmo que eu. Acompanhar seu time fora do Brasil tem um quê de Copa do Mundo, e Buenos Aires estava tomada por palmeirenses – em qualquer lugar que você fosse, tinha ali um alviverde ou uma turminha deles, na pizzaria, no bar, no obelisco. Eu fui sozinha, tinha uns alguns amigos para encontra lá, mas um torcedor, amigos, este nunca está só.
E o mais legal de tudo: Tinha muita mulher! Muita torcedora que se debandou até outro país para assistir seu time do coração. Isso foi demais. E, para mim, é a experiência que fica.
Na véspera e no dia do jogo, Buenos Aires respirou Palmeiras. Eu encontrei meus amigos e fiz uns tantos outros porque para começar uma amizade você precisa de uma coisa: identificação – e ali todos tinham uma das maiores, um amor que te faz sair do seu país para assistir a um jogo de futebol. Eu ainda emendei alguns dias pela Argentina, mas grande parte dos torcedores fez o bate-volta, ficaram dois ou três dias.
O resultado do jogo, todo mundo sabe, 2×0 pra gente, La Bombonera calada e uma torcida incansável. Éramos menos de 5% do estádio, mas nossa voz foi inversamente proporcional à quantidade de pessoas. Para quem estava ali, foi evidente o quanto marcamos presença, e para quem não esteve, todos os jornais e programas esportivos da Argentina falaram disso. Fomos uma torcida que fez a diferença. No estádio, na cidade, na televisão.
Encontrei alguns argentinos amantes de futebol que disseram: eu já vi muita torcida vir aqui para jogos, os colombianos são os que vêm em mais gente, do Brasil vem bastante também, mas igual a vocês, foi uma invasão: NADA IGUAL (ler com sotaque espanhol). SEM CLUBISMO, CLARO.
Eu não tinha exatamente o sonho de ganhar do Boca na casa deles, mas ir até lá, encontrar meus iguais, ganhar, foi viver um SONHO. Algo que nunca vou esquecer, até porque nem mesmo o mais otimista dos palmeirenses poderia prever tamanha alegria.
Se a torcida foi incrível e foi parte fundamental dessa vitória histórica, a realidade de torcer para esse time é um pouco diferente.
Tenho a consciência completa de que pouquíssimos palmeirenses têm a condição de fazer o que fiz, pegar um vôo, ir até Buenos Aires, me hospedar bem, passear. Fora a torcida organizada, que fez bate e volta de ônibus, todos que estavam fazem parte de um pequeno grupo privilegiado, não só da torcida, mas da nossa sociedade.
E se tenho um amor profundo e inexplicável por esse time, tenho um desprezo e críticas infindáveis pelo que a diretoria do clube faz há tempos com a torcida. Na Argentina, foi evidente o quanto não estão nem aí para gente. Além do caso já citado do ingresso, lá em Buenos Aires, nada também além de outra nota no site, nenhum suporte, uma omissão sem fim. Você pode pensar: mas o clube não pode se preocupar com os torcedores que foram lá – a minha opinião é: ELE TEM QUE.
Não precisa ser babá, mas tem, sim, que olhar para quem está em outro país por você. Um time, pessoal, um time não é nada sem sua torcida. É disso que ele vive.
Temos uma das maiores e mais apaixonadas torcidas do mundo e um clube com atitudes para afastar cada vez mais o verdadeiro torcedor. Os preços impraticáveis e vergonhosos de ingresso – na Libertadores, o mais barato era R$ 180,00 (isso é quase 20% do salário mínimo). Dá para ter ideia da falta de noção nisso?
Aí tem os que falam: mas o sócio-torcedor tem mais barato, tem de “graça”. Gente, não tem. Se você não tiver mais que 90% de frequência e estiver com computador, celular e similares ligados ao mesmo tempo para tentar pegar a superior/gol norte (o setor de graça) na pré-venda, você gasta uma grana para acompanhar o Palmeiras no estádio. Para terem uma ideia, no setor gol norte, cabem pouco mais de 7 mil pessoas, ou seja, 15% do estádio.
Nem o brasileiro, nem o palmeirense comum tem condições de frequentar o estádio desse jeito, o que o Palmeira faz é um insulto e beira a gentrificação: desde o cerco da polícia nas ruas em dias de jogos (só passa para a rua do estádio quem tem ingresso) que acabou com a festa que costumávamos fazer do lado de fora e que muitas vezes acolhia quem não tinha condições de comprar o ingresso, até essa política de preços. Nós, como qualquer outro time, como o futebol, somos feitos da força popular. Se perdermos isso, muita coisa para de fazer sentido.
O estádio, com a fase boa que vivemos, está sempre cheio, o que não significa que acolhe os seus torcedores como deveria – pelo contrário, muitos palmeirenses estão sendo privados do que eu acho que é um direito básico: o acesso à arquibancada.
O Palmeiras é gigante porque tem um torcida gigante. Parte dela conseguiu fazer história em Buenos Aires. A maioria não consegue frequentar o estádio porque o clube não faz questão nenhuma.
Abre o olho, Palmeiras, presta atenção de quem você precisa e de quem você quer ao seu lado.
Foi lindo lá, mas aqui tem que ser muito melhor.