O planejamento está sendo minucioso e, para algumas, começou ainda em 2014. Mal havia acabado uma Copa do Mundo, elas já estavam pensando em outra. É que a experiência de um Mundial acontecendo em casa inspirou a vontade de viver isso de novo – 2018 (e a Rússia) eram logo ali.
Mas entre essas 50 mulheres que hoje estão juntas nessa missão, quase nenhuma se conhecia antes de começar o projeto “Copa 2018”.
“Quando acabou a Copa de 2014, eu já comecei a pensar em ir para a Rússia. Eu só consegui ver um jogo naquela época. Meu ex-namorado tinha comprado ingresso pra mim, só que aí a gente terminou antes do Mundial, não dividimos os ingressos e fui só em um jogo. Me arrependi amargamente. Fiquei pensando: preciso ir enquanto ainda sou jovem e aguento os perrengues”, contou às dibradoras Mariana Neme, que tem 37 anos e é de Brasília.
Só que quando começou a consultar as amigas sobre uma viagem para a Rússia, não teve muitas adeptas. “Elas não gostam muito de futebol, ia ser algo caro e não acharam que valeria a pena”.
Mari, porém, estava decidida a ir, mesmo sozinha. E aí veio a mágica da tecnologia e das redes sociais, que trouxeram para ela um grupo que hoje tem mais de 50 mulheres com os mesmos planos: aterrissar em Moscou em junho deste ano.
“A gente se conheceu em um grupo de whatsapp que tem uma galera que vai para a Copa. A maioria é homem. Mas aí pensamos em juntar as mulheres em um grupo separado, para fazermos nossos planos juntas e tentarmos nos encontrar. Aí surgiu o Elas Na Copa”, explicou.
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De todas as idades, de todos os lugares
Bianca é psicóloga, mora em São Paulo e tem 33 anos. Camila é professora, mora no interior paulista. Mariana é de Brasília, bancária. Teve quem tenha decidido deixar o namorado, que não é fã de futebol, no Brasil e seguir para a Rússia para acompanhar a seleção. Tem também quem tem só 22 anos, mas já quer viver a experiência de uma Copa fora de casa. E tem quem já passou dos 50 e sabe que futebol não tem idade.
Uma de cada canto do país, com históricos diferentes e interesses distintos, mas com o futebol que as une. Algumas passarão até 40 horas no avião em uma viagem cheia de escalas, mas que elas garantem que valerá a pena.
“A ansiedade já está matando. Já está sendo legal, porque conheci essas meninas, de tantos lugares diferentes, fiz varias amizades. Está sendo uma troca de experiência, troca de planejamento, e espero encontrar essa galera para ver os jogos”, afirmou Mariana.
Ela, inclusive, está tendo que fazer uma ginástica no calendário para poder comemorar o aniversário do filho no Brasil antes de embarcar para a aventura. “Ele faz 9 anos dia 29 de junho. Então vou ficar aqui, devo antecipar um pouco a festa dele e viajar para a metade final da Copa”.
Mariana passou os últimos quatro anos planejando como seria essa viagem “ousada” para uma Copa do Mundo em um país bem diferente do seu e por algum tempo imaginou que teria que viver essa aventura sozinha.
“Confesso que achei meio ousadia me aventurar num país muito diferente do nosso, super machista e ainda por cima num evento ‘tão masculino’ que ainda é o futebol! Pensei que não encontraria muitas mulheres com essa disposição”, pontuou.
“Minha grata surpresa foi encontrar esse grupo de meninas que juntas estão se ajudando a cada dia, seja por uma dica, dividir quarto, comprar o ingresso de um jogo, se juntar para um passeio, falar da escalação da seleção, discutir os lances dos jogos, etc! Temos grupo com os meninos e tentamos discutir em pé de igualdade os assuntos futebolísticos para mostrar que não estamos indo apenas em busca de uma viagem, mas sim para torcer porque também entendemos do assunto!”
“Ter esse grupo totalmente heterogêneo me dá um maior conforto e apoio de que não estamos sozinhas na busca de mostrar que lugar de mulher também é no estádio, nos gramados e na torcida!”
Conversamos aqui com três das quase 50 mulheres que estão no projeto Elas Na Copa. Até junho, traremos mais histórias dessas torcedoras que estarão na Rússia para acompanhar a seleção brasileira e, em Moscou, estaremos com elas para viver essa aventura 🙂
Bianca, 33 anos, São Paulo
“Comecei a gostar de futebol desde cedo. Ia aos jogos do Corinthians com meu irmão desde pequena. Eu morava em uma rua pequena e fechada e, durante a Copa, a gente sempre pintava a rua de verde e amarelo e via os jogos da seleção juntos. Aí em 2016, quando voltei de férias, decidi que iria para a Copa. A princípio decidi ir sozinha, aí depois meu irmão resolveu ir também e, quando comprei a passagem em junho do ano passado (assim que abriu a venda), coloquei no facebook e outro amigo animou.
Entrei nesse grupo do WhatsApp e fui conhecendo mais e mais gente que ia. Então eu montei meu roteiro sozinha, mas agora vou conseguir encontrar essa galera lá.
A expectativa está enorme, acho que é uma experiência muito legal. Consegui comprar alguns jogos já, fiz bastantes amigos, estou super ansiosa, meu dia a dia não é mais o mesmo. Agora ja comprei álbum tambem, comprei um monte de figurinha, ja fechei hotel e agora conhecer as meninas pessoalmente também vai ser muito legal. E que venha a Copa!”
Camila Gomes, 28 anos, de Promissão (SP)
Eu não sou mega apaixonada por futebol, mas sempre gostei de Copa do Mundo. Em 2014, eu tentei ir a alguns jogos, mas não consegui ingressos, aí desisti. Eu não tinha muito acesso às informações sobre como comprar e tal, aí não consegui. Então quando começaram a aparecer as informações para os ingressos da Rússia em 2017, eu já fui procurando para ir. Aí entrei no site mochileiros.com e procurei uma parte “companhias para viajar”. Tinha um post de um menino de Manaus que tinha criado um grupo das pessoas que vão para a Copa. Aí entrei no grupo do whatsapp.
Fiz amizades incríveis – o grupo nasceu em janeiro de 2017, a maioria é homem, acho que inicialmente tinha umas 20 mulheres apenas. Desse grupo foram surgindo outros grupos, e esse das meninas nasceu dele. Fomos chamando meninas de outros grupos e juntamos todas ali com intuito de nos encontrarmos na Rússia. Agora minha expectativa é fazer muitos amigos de vários lugares do Brasil, conhecer uma cultura diferente e torcer pela seleção!
Mariana Neme, 37 anos, de Brasília
Eu sempre amei esportes, desde pequena. Jogava vôlei, handebol, fazia ginástica olímpica, tudo. Eu queria ser atleta, mas Deus não me deu o talento (risos). Aí quando eu estava trabalhando no banco aqui em Brasília, os meninos começaram a fazer um grupo pra jogar futebol e eu quis fazer o mesmo para as meninas. Montamos um time, agora a gente joga semanalmente, eu também organizei o campeonato entre as funcionárias do Banco do Brasil de Brasília e agora o esporte e o futebol fazem parte do meu dia a dia – ainda que eu seja meio perna de pau, hahaha!
Sempre fui apaixonada por futebol também, gosto de ir ao estádio, acho que a emoção da arquibancada não tem igual, é melhor que montanha-russa, melhor até que beijo na boca, ou que tagarelar com as amigas! Então me arrependi muito de não ter ido a mais jogos na Copa e, na Olimpíada, também não consegui ir em muita coisa porque tive algumas questões de saúde. Aí comecei a planejar a viagem para a Rússia aproveitando que ainda sou jovem e aguento os perrengues! Não está sendo fácil, porque é um país muito grande, a logística não é fácil de uma cidade para a outra, então serão várias noites dormindo em trem, mas vai valer a pena! Eu já tenho alguns ingressos e passagens internas, mas ainda falta a passagem para Moscou mesmo, que eu estava vendo as datas por causa do aniversário do meu filho. Mas vai ser uma experiência incrível, já está sendo!