O Corinthians tinha tudo para fazer sua estreia em grande estilo na Copa Libertadores da América na última segunda-feira. Não, você não leu errado: o Corinthians está disputando a Libertadores nesse ano. Mas, provavelmente, se estivéssemos falando do time masculino do clube paulista, você não leria o parágrafo abaixo.
O Corinthians não estreou na Copa Libertadores (disputada no Paraguai) porque 18 das 20 atletas da delegação tiveram intoxicação alimentar na madrugada de segunda-feira. Logo pela manhã, elas descobriram que não foram as únicas. Sete das 12 delegações que participam da competição tiveram atletas com o mesmo problema.
Não foi coincidência e não é coincidência que toda santa edição da Libertadores feminina tenha registros de problemas básicos de organização: em 2015, foi um apagão no estádio durante o jogo do São José (a partida continuou mesmo no escuro) e alimentação limitada para as atletas. Em 2016, a data e a sede da disputa foram definidas de última hora, a dois meses do início da competição. E em 2017, quando ao menos a estrutura parecia melhor – os times estão hospedados em um hotel resort no Paraguai -, o problema veio com a alimentação. E até agora não foi explicado.
“Quase todas as jogadoras passaram mal. Vieram 20. Acho que uma ou duas nao passaram. O resto, todas tiveram pelo menos um pouco de diarréia. Outras foi pior. Fomos medicadas, tratadas pela médica aqui e o próprio pessoal da comissão Agora está tudo bem”, relatou a meio-campista Cacau, do Corinthians, às dibradoras.
“Aconteceu logo após o jantar no domingo. Algumas horas depois, uma ou outra começou a passar mal ainda antes de ir dormir. Aí começamos a mandar no grupo e vimos que várias estavam sentindo a mesma coisa. Aí na terça de manhã a gente descobriu que praticamente todas tinham passado mal, vomitado ou tido diarreia.”
Todas as delegações do torneio estão ficando no mesmo hotel, por isso tantas delas apresentaram os mesmos problemas.
“A comida é muito boa, comida normal, arroz, macarrão, carne, igual no Brasil. A gente nao sabe a causa, o que foi. Mas claro que foi algum alimento que não estava ou bem lavado ou que não estava bom”, pontuou Cacau.
Diante da situação, a Conmebol não teve outra alternativa, que não adiar o início da competição para esta quinta-feira (12 de outubro). Em 72h , os times ao menos tiveram um tempo a mais para poderem se recuperar da diarreia e desidratação. Mas agora a competição que já era apertada, com muitos jogos em sequência, será ainda mais. O tempo de descanso entre um jogo e outro será de apenas 48h.
“A Conmebol colocou esse período de pausa na competição após solicitação médica pelo ocorrido, o que realmente era necessário pelo que vimos do estado de saúde de algumas jogadoras das outras equipes”, explicou o técnico do Corinthians, Arthur Elias.
“Saiu uma nova tabela, na qual tivemos um prejuízo grande. De agora em diante, jogaremos a cada 48h e não 72h, que seria muito mais apropriado para a recuperação das atletas. Se chegarmos a final vamos fazer 5 jogos em 10 dias”, ressaltou.
Agora, a Libertadores, que costuma acontecer em duas semanas, vai ser espremida em 10 dias. É claro que toda a iniciativa para se organizar uma competição no futebol feminino precisa ser valorizada, mas diante de todos os problemas já apresentados nas oito edições anteriores, há que se começar a questionar: por que manter um campeonato que dura apenas 15 dias, exige viagens e desgastes das equipes sem oferecer o mínimo de estrutura adequada para elas?
Apagão no estádio, falta de estrutura (que vai dos campos aos locais de hospedagem), intoxicação alimentar…parece que estamos falando de uma competição amadora, no máximo universitária. Mas o assunto aqui é um dos torneios mais tradicionais do futebol (ao menos no masculino), organizado por uma das principais confederações do mundo. E olha que a Libertadores masculina também não é um primor de organização e tem uma ou outra bizarrice também.
Mas dá para imaginar delegações de Boca, River, Corinthians e quem mais se classificasse para a competição vivendo uma situação dessas de intoxicação alimentar causada pelo alimento fornecido pela própria organização do campeonato?
É claro que não dá para comparar (hoje, infelizmente) as realidades do futebol masculino e do futebol feminino. Os investimentos, os lucros, etc e tal, sabemos de todas as diferenças. Mas também não dá mais para aceitar migalhas.
A Libertadores feminina atual é uma competição de mentira. Parece que a Conmebol só a organiza porque tem que organizar, mostrar serviço para a Fifa. E ela ignora ano a ano todos os problemas básicos de organização que o torneio apresenta.
A taça da América passou a ser disputada no futebol feminino em 2009, no Brasil, com 10 equipes. Em 2011, evoluiu para 12. E desde então, pouquíssima coisa mudou na organização. Ainda temos apenas 12 times na disputa (o detentor do título, o clube campeão de cada uma das dez associações da Conmebol, e uma equipe adicional do país sede.), ainda temos apenas 15 dias de competição e ainda temos um calendário com data e local do torneio definidos de última hora.
“Sabemos que o fator econômico é preponderante. Mas penso que devemos evoluir para uma competição com mais equipes participantes, 2 ou 3 de cada país, ou com número de vagas por ranking das confederações, conforme o masculino. E poderia ser realizada por etapas e não concentrada em tão pouco tempo”, observou o técnico do Corinthians.
“Sendo assim, e dividindo as delegações em hotéis e estrutura de treinamentos diferentes, teríamos um grande avanço.”
Uma competição continental como a Libertadores precisa querer ser mais do que apenas um torneio amador.
Jogos do Corinthians na Libertadores (transmissão do Esporte Interativo):
12/10 às 20h15: Corinthians Audax x Sportivo Limpeño (PAR)
14/10 às 18h: Corinthians Audax x Deportivo ITA (BOL)
17/10 às 19h: Corinthians Audax x Independiente Santa Fe (COL)
Comunicado da Conmebol
A Diretoria de Competições da Confederação Sul-Americana de Futebol anuncia que decidiu adiar por 72 horas a continuação dos Jogos Libertadores 2017 da CONMEBOL no Paraguai, depois de analisar o relatório enviado pelo Comitê Organizador Local à Comissão Médica da CONMEBOL.
Este relatório diagnostica uma possível intoxicação alimentar de atletas de alguns clubes que participam da competição de clubes continentais, de modo que a Diretoria de Competição da CONMEBOL solicitou ao Comitê Organizador Local, organizador do evento, que procedesse às investigações relevantes e medidas corretivas.
A decisão de reprogramar as partes visa proteger os atletas e facilitar sua recuperação completa do ponto de vista médico e competitivo. O concurso reiniciará na quinta-feira, 12, seguindo o cronograma, ajustando algumas datas para dois dias, para permitir culminar em tempo e forma com o programa de correspondência.
A reprogramação será encaminhada amanhã, agradecendo a todos os protagonistas do concurso, a compreensão desta situação de força maior.