Museu do Futebol é reinaugurado em São Paulo com acervo inédito de mulheres históricas

Foto: Marcela Guimarães/Museu do Futebol

Com novas experiências e maior representatividade, exposição principal aborda temas contemporâneos e históricos que reafirmam o futebol como parte da identidade nacional

O Museu do Futebol – a casa do futebol brasileiro – está de cara nova. O acervo conta a
história do esporte mais amado do país, com novidades como a instalação Mulheres no
Futebol, que mostra como as brasileiras resistiram e seguiram jogando mesmo sob a
proibição contra o futebol feminino instituída por Getúlio Vargas e que vigorou entre
1941 e 1979.

Diferente do acervo anterior, em que a maioria dos registros masculinos estampavam as
paredes, quadros e telões, os diversos futebóis jogados e celebrados pelos brasileiros
completam a experiência do visitante – que pode conferir tudo de terça a domingo, das 9h
às 17h, com entrada gratuita às terças-feiras.

As mudanças do Museu do Futebol prometem uma emocionante experiência, mais diversa,
inclusiva e divertida. Agora, o famoso espaço localizado na Praça Charles Muller, ganhou
novos conteúdos e salas, mais recursos de acessibilidade, itens raros e curiosos, vídeos,
fotos e atrações inéditas.

Para o time Dibradoras, que acompanhou a trajetória do Museu do Futebol e pôde contribuir
para evidenciar o futebol feminino, é emocionante ver a história de jogadoras e ex-
jogadoras da seleção brasileira e diversas outras mulheres que marcaram a história da
modalidade no Brasil e no mundo, em destaque para conhecimento de diversos públicos, a
exemplo das jogadoras Marta e Formiga. Agora, em 2024, elas ocuparam de vez o espaço
que tanto mereciam estar!

Homens e mulheres, juntos, nas origens do futebol!

Foto: Marcela Guimarães/Museu do Futebol

Aqui, finalmente a igualdade aconteceu! A Sala Origens conta a trajetória do esporte desde
o século XIX e segue até os anos 1930. Esse é um dos espaços reformulados que passa a
contemplar com mais ênfase o futebol feminino. Entre os grandes marcos dessa história
está o decreto assinado por Getúlio Vargas, em 1941, que vetou a prática da modalidade
por mulheres. A justificativa era de que o esporte seria “incompatível com as condições de
sua natureza”. O veto durou quatro décadas.

As primeiras informações sobre o futebol de mulheres foram incluídas na exposição
principal do Museu em 2015. Agora, no percurso atualizado, há mais conteúdos inéditos
coletados e cedidos por jogadoras, técnicas e jornalistas esportivos.

A curadora e diretora técnica Marília Bonas explica que o Museu é hoje um hub do futebol
feminino e está em equilíbrio com o que a instituição oferece sobre a modalidade masculina.
“O empenho em trazer à tona a história do futebol de mulheres e de jogadoras como Marta
e Formiga tornou o Museu uma das fontes de pesquisa mais abundantes sobre o tema”. Na exposição renovada, foram incluídas na Sala das Origens imagens raras que mostram mulheres brasileiras jogando futebol a partir de 1920 – por enquanto, os registros mais antigos de que se tem notícia.

Na Sala das Copas, por exemplo, o futebol feminino ocupa quatro módulos – Defesa, Drible,
Contra-Ataque e Gol – que exaltam a história e a resistência femininas entre 1941 e 1988 –
período que vai da proibição da modalidade até a realização do Primeiro Torneio
Experimental da China, em 1988, que antecedeu a criação oficial da Copa do Mundo FIFA
de Futebol Feminino. Além disso, foram incluídas na Sala todas as edições de Copas
femininas desde 1991, junto com as masculinas. “Nesta sala, uma das mais queridas do
público, incluímos imagens inéditas, pesquisadas e cedidas por pioneiras do futebol
feminino no Brasil”, conta Marília.

Foto: Marcela Guimarães/Museu do Futebol

Outra novidade é um vídeo protagonizado pela jogadora Marta. Projetada em uma tela de
tamanho natural, a rainha do futebol se despede do público ao fim do percurso de visitação.
Em português, espanhol e inglês a atacante convida todos a retornarem e, por fim,
agradece na Língua Brasileira de Sinais (Libras). A projeção é como um espelho do vídeo
de boas-vindas com Pelé, na entrada do Museu, desde a inauguração em 2008.

Foto: Nilton Fukuda

Destacamos abaixo outras novidades das instalações do Museu do Futebol:

RAÍZES: Mais de 100 fotografias e um filme produzido pelo cineasta Carlos Nader podem
ser conferidos no espaço, que possui um telão multimídia composto de 17 monitores. “A
Sala Raízes mostra a celebração do povo brasileiro, entre as décadas de 1930 e 1950,
quando o Brasil olhou para si e surgiram valores novos da cultura nacional – na pintura com
Portinari, na literatura com Drummond, assim como na música, no teatro e outras
importantes manifestações”, descreve o curador Leonel Kaz. Com interatividade e
tecnologia, o novo espaço oferece uma experiência que ressalta como o futebol transcende
as fronteiras do esporte para se tornar um fenômeno cultural.

PELÉ: O espaço totalmente dedicado ao Rei do Futebol promete emocionar quem o viu
jogar e surpreender aqueles que não tiveram essa oportunidade. Considerado o atleta do
século XX pelo Comitê Olímpico Internacional, sua trajetória é contada com imagens
cativantes do jogador. A curadoria explora ainda a relação do rei com outros jogadores em
campo. A camisa vestida por Pelé na final da Copa de 1970 contra a Itália ganha a
companhia de outro exemplar raro – o uniforme usado pelo jogador em uma partida em
homenagem à rainha Elizabeth II, da Inglaterra, pela Seleção Paulista.

Foto: Nilton Fukuda/Museu do Futebol

Para o curador Leonel Kaz, a sala é um dos pontos altos da nova experiência. “Faz meio
século que ele parou de jogar e segue muito significativo na memória brasileira do futebol,
pois o Pelé nos habita, representa o desejo, o instinto, uma forma de alcançar uma vitória,
em todos os sentidos”.

JOGO DE CORPO: Os visitantes do Museu do Futebol encontrarão possibilidades
interativas e gameficadas nesta nova sala. As atividades, por meio da movimentação
corporal, exploram elementos de uma partida de futebol como a troca de passes, precisão e
velocidade. “Essa sala já existia, mas ganhou atenção especial e foi aprimorada”, conta
Marcelo Duarte. “Percebemos que atividades como o Chute a Gol agradavam e isso nos levou a propor outras práticas futebolísticas”, explica o curador. “É um momento para descontração, de interação entre a família e os amigos”.

DANÇA DO FUTEBOL: Em parceria com a Globo, esse novo espaço permite aos visitantes
escolher vídeos que documentam situações memoráveis do futebol brasileiro. Gols
históricos, comemorações inesquecíveis, defesas e dribles que desconcertam o adversário
são parte do menu. “Cabiam outros gols no Museu e essa sala vai apresentar muitos deles,
de um jeito diferente, moderno e lúdico. O público vai conferir jogadas espetaculares”,
observa Marcelo. As jogadas incríveis vêm de diferentes estados brasileiros, tanto de
campeonatos masculinos quanto de femininos.

ALMANAQUE DA BOLA: “O seu, o meu, o nosso Pacaembu!” Um dos palcos mais
importantes do futebol nacional, o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o
Pacaembu, que celebrou 84 anos em abril, não poderia ser esquecido no processo de
renovação do Museu. “Agora contamos a história do estádio da forma como ele merece”,
celebra Marcelo Duarte. A sala reserva um vídeo especial de nove minutos sobre o estádio,
além de maquetes táteis e assentos extraídos do Pacaembu.

Almanaque da Bola substitui a antiga sala Números e Curiosidades, agora com novas
tecnologias e interação, como desafios e testes sobre temáticas relacionadas a questões
contemporâneas do esporte, como visibilidade das modalidades adaptadas para pessoas
com deficiência e o problema do racismo. Informações em linguagem simples e visualmente
atraentes são oferecidas com recursos de acessibilidade.

Foto: Marcela Guimarães/Museu do Futebol

Outra novidade é que as ilustrações da Almanaque passam a representar homens e
mulheres, de diferentes tons de pele. De acordo com a curadora e diretora técnica Marília
Bonas, esse processo indica uma mudança de paradigmas. “Antes, a comunicação visual
trazia apenas imagens de homens, em preto e branco. Eram os mesmos corpos, como se
fosse um padrão. Nessa renovação temos outras cores, silhuetas, diferentes gêneros,
pessoas com deficiência… Afinal, o futebol é para todas e todos”, afirma.

O BRASIL NO MUNDO: A história recente do futebol brasileiro é abordada nesta instalação,
onde vídeos com depoimentos de jogadores que passaram por clubes fora do país retratam
como os brasileiros são reconhecidos no exterior. “Mostra como o Brasil tem exportado ‘pé
de obra’ para diversos países”, explica Duarte.

Alguns visitantes solicitavam mais objetos na exposição, mesmo sendo o espaço
majoritariamente dedicado a acervos audiovisuais experiências interativas. O pedido foi
atendido. “Temos uma vitrine que será modificada de tempos em tempos com peças
significativas. Iniciamos com a chuteira que o Neymar usou em 2016 e uma medalha de
ouro de Mizael Conrado, do futebol de 5, modalidade praticada por pessoas com deficiência
visual”.

Reabertura
As obras do novo Museu do Futebol começaram em novembro de 2023, mas a concepção
do projeto teve início há mais de dois anos. Profissionais de pesquisa, audiovisual,
expografia e comunicação participaram do projeto coordenado pelos curadores Leonel Kaz, Marcelo Duarte e Marília Bonas. A iniciativa teve direção artística e projeto expográfico de
Daniela Thomas e Felipe Tassara e comunicação visual de Jair de Souza.

“A reabertura do Museu do Futebol celebra nossa rica história futebolística e abraça a
diversidade e a inclusão. Este espaço renovado oferece uma oportunidade única para todas
as gerações se conectarem com as raízes do esporte que molda nossa identidade
nacional”, ressalta a secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Marília Marton.

Para encarar o desafio, o trio de curadores formou conselhos com personalidades ligadas
ao esporte; um grupo de jovens e a própria equipe técnica da instituição contribuíram com
sugestões. A partir dessa troca de ideias o projeto ganhou corpo. “Mantivemos o espírito do
Museu e incorporamos tecnologias e experiências para deixá-lo ainda mais moderno e
atraente para todos os públicos”, conta Marcelo.

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